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Fábio Porchat escreve e dirige comédia de esquetes sobre um universo feminino sem clichês

Maria Clara Gueiros, Júlia Rabello e Priscila Castello Branco protagonizam “Agora É que São Elas!”, que estreou no Festival de Curitiba e entra em cartaz no Rio de Janeiro no dia 5

Notícias Por Dirceu Alves Jr.

Fábio Porchat deu um voo rasante de menos de 48 horas no Festival de Curitiba. Em meio a sua frenética agenda, o ator, diretor e roteirista participou de uma coletiva, acompanhou o ensaio geral e agradeceu os aplausos depois da estreia da comédia Agora É que São Elas, que fez as duas primeiras apresentações nesta terça (26) e quarta (27) em um superlotado Teatro Guaíra. Júlia Rabello, Maria Clara Gueiros e Priscila Castello Branco são as protagonistas que se desdobram em vinte personagens, femininos e masculinos, nesta coletânea de nove esquetes escritos e dirigidos por Porchat. O espetáculo entra em cartaz no Rio de Janeiro, no Teatro dos Quatro, na sexta da próxima semana, dia 5.

Foto: Pino Gomes

Na manhã seguinte à estreia, Júlia, Maria Clara e Priscila ostentavam um sorriso farto, de orelha a orelha. Era o alívio das primeiras reações recebidas, depois de quarenta dias de trabalho sem nenhum contato com o público. “A gente tinha programado um ensaio aberto para a sexta passada, mas veio aquela previsão de tempestade no Rio e cancelamos”, diz Júlia. Maria Clara assume que, apesar de reconhecer a fluência da dramaturgia, uma comédia só se consolida diante do público porque os atores e as atrizes precisam ouvir as risadas para se sentirem minimamente seguros. “O que achei mais engraçado é que a plateia enxerga os pensamentos do Fábio através da gente e nós somos apenas os cavalos em cena”, comenta. Priscila não via a hora de voltar a encarar personagens no teatro. “Eu tenho o meu stand-up, Tô Quase Lá, que é mais independente, faço do meu jeito, só que aqui encontrei esse jogo tão importante entre nós três.”

As peças curtas, de diálogos rápidos e afiadas, flertam com o patético comportamento da sociedade atual, mas, algumas delas, foram criadas, acreditem, há quase 20 anos. Lá, nos corredores da CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), no Rio de Janeiro, dois jovens estudantes de artes cênicas, Fábio Porchat e Paulo Gustavo (1978-2021), escreviam sem parar. Júlia Rabello, veterana desta turma, que já trabalhava com produção teatral, foi ver uma leitura destes dois garotos e saiu boquiaberta. “Era tudo engraçado, os textos muito bons, mas, como estava sobrecarregada de trabalho, acabei não abraçando o projeto”, relembra. “É uma pessoa de visão e tino comercial, não é”, debocha Maria Clara.

Entre os esquetes desta época, revelados em Agora é que são Elas, Júlia se recorda de dois. Um deles é “Números”, interpretado por ela mesma e Priscila, sobre um casal perdido em meio aos tantos algarismos que precisa memorizar para usar como senhas. O outro é “Selfie”, que, no começo dos anos 2000, se chamava “Autógrafo”, e mostrava uma fã que lista dezenas de defeitos em uma atriz de televisão que supostamente admira. Na versão de 2024, protagonizada por Maria Clara e Priscila, a estrela da vez é uma celebridade da internet, e a fã virou a mãe de uma adolescente que pede uma foto e um vídeo.

Foto: Pino Gomes

Maria Clara e Júlia dividem o palco em “Superstição”, peça que traz o reencontro de duas amigas que não se viam há anos. Uma delas acredita em todas as crendices e a outra é puro ceticismo. O trio contracena em uma outra história que satiriza a banalização das cirurgias plásticas na busca pelo corpo perfeito. Maria Clara ainda interpreta uma mãe que decide ter uma conversa aberta sobre sexo com a filha adolescente (vivida por Priscila), e a mesma dupla divide uma cena em que a Mulher Maravilha, exausta de tanto usar seus poderes a favor dos outros, sonha com dias de férias.

Priscila deu o empurrão para o projeto deslanchar. Um dia, em maio passado, Porchat vasculhou a memória do computador e encontrou mais de quarenta esquetes desse tempo de faculdade. Selecionou vinte deles e mostrou para a namorada. “Por mim, colocava no palco os quarenta, mas o Fábio controlou o meu entusiasmo e escolheu os vinte que considerou atemporais”, conta. Na hora, o autor e diretor pensou em Maria Clara e Júlia. A primeira estava em cartaz no Rio de Janeiro com o musical Mamma Mia e lá foram Fábio e Priscila assistir a uma apresentação e fazer o convite. “Eu topei na hora, sem conhecer o texto, porque eu acredito em tudo o que o Fábio faz”, justifica a atriz.

Júlia, por sua vez, vivia uma situação tragicômica quando recebeu o telefone de Porchat. O teto de sua casa tinha literalmente desabado, e a proprietária exigiu que o imóvel fosse desocupado em um mês. “Depois de tudo isso só um projeto desses para me salvar e, quando o Fábio me falou que só queria mulheres no elenco, entendi que seria algo diferente”, declara a atriz. “O humor brasileiro ainda é muito machista e talvez seja uma experiência inédita na minha carreira contracenar somente com mulheres”, declara.

Foto: Pino Gomes

Priscila chama atenção que, dos nove esquetes, apenas um deles, batizado de “Sexo”, enfoca necessariamente um homem e uma mulher. “O que acho legal desta cena é que por muito tempo só se falou da falta de tesão da mulher e aqui é o homem que não quer transar”, diz Júlia. Para os demais quadros, a questão de gênero se torna relativa e isso é verificado na interpretação das atrizes, que jamais recorrem a figurinos ou trejeitos masculinos no palco.

“Compor um personagem masculino exige mais observação porque o homem faz muito menos gestos, é diferente da mulher que coloca a mão aqui ou ali o tempo todo”, explica Júlia. Priscila, porém, é quem dá a melhor definição. “É um espetáculo feminista na forma e não no texto, é sobre fazer e não dizer, afinal são mulheres interpretando qualquer personagem sem ter um homem junto no elenco”, completa.

Nota: As informações e opiniões contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de seu/sua autor(a), cujo texto não reflete, necessariamente, a opinião do INFOTEATRO.

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Dirceu Alves Jr.

Dirceu Alves Jr.

É jornalista, escritor e crítico de teatro, trabalhou em Zero Hora, IstoÉ Gente e Veja São Paulo e publicou os livros Elias Andreato, A Máscara do Improvável (Humana Letra) e Sérgio Mamberti, Senhor do Meu Tempo (Edições Sesc).

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