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O Impacto do Teatro Musical no Cenário Brasileiro

Coluna Por Natália Beukers

O teatro musical no Brasil vive um momento de expansão sem precedentes. Com um público fiel e produções que encantam tanto pela técnica quanto pela grandiosidade, o gênero consolidou-se como uma das principais vertentes do circuito teatral do país. Esse crescimento não é obra do acaso, mas resultado de esforços conjuntos de artistas, produtores e públicos que enxergam no gênero uma expressão vibrante e completa. Em minha experiência ao longo dos anos, ao escrever sobre o tema e entrevistar artistas como Claudia Raia, percebo que o teatro musical no Brasil se preocupa com a adaptação da tradição estrangeira à identidade brasileira – nem sempre com êxito.

No entanto, o alto grau de profissionalismo exigido pelo teatro musical merece destaque. Os musicais demandam artistas capazes de cantar, dançar e interpretar com igual competência. Essa tripla habilidade é o coração do gênero, e no Brasil temos visto profissionais capacitados para essa tarefa. A disciplina e a formação técnica são constantemente ressaltadas por artistas da área, refletindo o alto padrão das produções em cartaz.

Historicamente, o teatro musical brasileiro atravessou fases de amadurecimento. Durante muito tempo, havia ceticismo quanto à viabilidade do gênero no país. Questionava-se se uma forma artística tão associada à Broadway e ao West End poderia encontrar ressonância no contexto cultural brasileiro. Em entrevista que fiz com a atriz e produtora Claudia Raia, em 2022, ela afirmou:

“Sou da época em que ninguém acreditava em musical. Até o Boni, que era meu oráculo, falou: ‘Claudia, não faz musical. É uma coisa americana, não funciona aqui no Brasil.’ E eu dizia: ‘Gente, se o Boni está falando isso… o que vai ser de mim… Como estrutura, o brasileiro está acostumado a essas apresentações grandiosas, com histórias cantadas, sambas cantados, todos cantando juntos. Então, eu pensava: ‘Como é que isso não funciona aqui? Se é um país totalmente musical, rítmico… não é possível que isso não dê certo no Brasil.” Todo mundo foi contra, mas eu estava certa. Porque podemos dizer que, hoje, é um dos únicos gêneros estabelecidos efetivamente no Brasil. Hoje, as casas lotadas estão nas mãos do teatro musical.”

A proximidade cultural do brasileiro com o musical pode ser observada em manifestações como o Carnaval, que compartilha elementos fundamentais do gênero, como narrativa, música e figurinos exuberantes. Essa afinidade cultural explica a adesão do público, que tem transformado o teatro musical em um fenômeno capaz de lotar casas de espetáculo por todo o país.

Além disso, o impacto do teatro musical no Brasil vai além do entretenimento, representando um mercado de trabalho robusto. Além de atores, cantores e bailarinos, o gênero gera oportunidades para músicos, cenógrafos, figurinistas e diversos outros profissionais. Claudia Raia observa que os musicais lideram em termos de público e bilheteira no país, com “dez ou doze produções em cartaz simultaneamente”, demonstrando a formação de um mercado consolidado. Pioneiros como Miguel Falabella, Marília Pêra e Bibi Ferreira pavimentaram o caminho para essa realidade, investindo em produções que conectam diferentes segmentos da indústria cultural.

Outro aspecto relevante é a formação de público. Muitas pessoas que antes não frequentavam o teatro passaram a fazê-lo, atraídas por produções grandiosas e emocionantes. Essa formação de novos espectadores é um legado fundamental, abrindo portas para que outras vertentes do teatro também ganhem visibilidade e apreço.

Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado um aumento significativo de musicais autorais, com histórias e músicas totalmente brasileiras. Embora os grandes musicais importados continuem sendo uma parte vital do circuito, as criações locais trazem frescor e identidade, dialogando diretamente com a realidade nacional. Produções como Rita Lee – Uma Autobiografia Musical, Clara Nunes, a Tal Guerreira e Tarsila, a Brasileira são exemplos notáveis de 2024.

Neste mesmo caminho, há uma vasta lista de espetáculos dos últimos anos: Ney Matogrosso – “Homem com H” O Musical; Elza, que homenageia a vida e obra de Elza Soares; Elis – A Musical, que homenageia a vida e obra de Elis Regina; Bibi – Uma Vida em Musical, sobre a vida de Bibi Ferreira; Sidney Magal – Muito Mais que um Amante Latino, entre outros; Belchior – Ano Passado Eu Morri, Mas Este Ano Eu Não Morro.

Essas iniciativas celebram grandes nomes da cultura nacional, enquanto abrem possibilidades criativas dentro do gênero. Essa experimentação reafirma a capacidade do teatro musical de dialogar com diferentes públicos e estilos musicais, ampliando o alcance do gênero no Brasil.

No entanto, os desafios são muitos. Produzir um musical exige altos investimentos e uma logística complexa. A manutenção das temporadas depende de incentivos governamentais, patrocínios privados e apoio constante do público. Valorizar e fomentar a cultura é essencial para garantir a continuidade desse crescimento. A busca por modelos sustentáveis de produção também é um tema em destaque, pois pode garantir o acesso a mais iniciativas criativas.

A formação de profissionais para o teatro musical também merece atenção. Instituições voltadas para este segmento desempenham um papel crucial ao capacitar novos talentos. Cursos que promovem o intercâmbio cultural com profissionais internacionais também têm contribuído para elevar o nível técnico das produções nacionais.

O futuro do teatro musical no Brasil é promissor. Com talentos emergentes e um público engajado, o gênero segue se reinventando e explorando novas possibilidades. Seja por meio de histórias universais ou narrativas profundamente nacionais, o teatro musical reafirma seu papel transformador, emocionando plateias e consolidando-se como uma das formas de maior sucesso de bilheteira no país.

 

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Sobre
Natália Beukers

Natália Beukers

Atriz e criadora do Portal Infoteatro, formou-se em Direito pela PUC-SP (2020). Começou a estudar teatro aos 10 anos, formando-se como atriz em 2017. Entre 2017 e 2021, estudou com os atores do Grupo TAPA, participando de três espetáculos: “Anatol”, “O Jardim das Cerejeiras” e “Um Chá das Cinco”, além de ter sido assistente de produção em mais de 10 temporadas da companhia. Professora de teatro desde 2022, atualmente cursa licenciatura no Célia Helena Centro de Artes e Educação. Embaixadora do Teatro B32, também já colaborou com a Folha de S. Paulo e com o segmento 'Vogue Gente', da Vogue Brasil, entre 2021 a 2023, onde publicou mais de 50 textos sobre teatro. Desde a criação do Infoteatro, em abril de 2020, entrevistou mais de 100 profissionais da área teatral.

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