Tenho a sensação, e acho que não sou a única, de que algumas semanas parecem ser mais corridas que outras. Quando se vê os dias passaram, aconteceram inúmeros fatos, alguns deles importantes para a vida nacional, e, apesar de tudo, ficamos capturados pelos afazeres do dia a dia.
Há semanas, sobretudo nestes tempos – depois de um ano e meio de pandemia e necessário distanciamento social –, em que devo confessar que toda a grandeza das artes e da cultura, nisto compreendido o teatro, ficam temporariamente esquecidos, e a única coisa que se faz é procurar dar conta dos compromissos do cotidiano. Às vezes fica difícil até mesmo ler um bom livro ou assistir a um belo filme. Parece que a vida vai vazando como água entre os dedos e se restringe a simples dias riscados no calendário.
Paralelamente às nossas vidas pessoais, vez por outra envolta pela mesmice, a realidade do nosso entorno apresenta-se conturbada pela sobreposição de acontecimentos. Por um lado, nesta última segunda-feira, 28.06, e no curso da semana, aconteceram as comemorações do importante Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+ (dias em que as redes sociais ficaram lotadas de muitas mensagens de resistência e informações sobre esse universo).
Por outro lado, vivemos momentos intensos na capital da República (longe de ser uma surpresa, tratou-se de confirmações difíceis de digerir). Também no correr desta semana, o Viga Espaço Cênico começou a ser demolido, como ressaltei na coluna anterior. E, ainda, perdemos Artur Xexéo.
Xexéo foi expressivo representante do jornalismo cultural, além de escritor e dramaturgo. Escreveu o espetáculo Bibi, Uma Vida em Musical, em homenagem à grande dama do teatro Bibi Ferreira. Esta coluna será dedicada a ele, inspiração, com inteligência e humor, para muitos de nós.
Mas, voltando ao início, quando os dias estão assim fluidos, o melhor que se tem a fazer, para retomar o sentido da existência, é entrar em contato com alguma expressão artística. Tenho a sensação de que sempre que estamos absorvidos pela nossa massacrante realidade as artes nos salvam desse mar de angústias e incertezas.Como já frisei em coluna anterior, a arte nos permite enxergar novas possibilidades para nossas próprias vidas.
Por conta disso, fiquei pensando qual poderia ser o tema central da coluna desta semana. Decidi ser fiel ao que estou sentindo e, assim, tentar atingir os leitores que possam estar em situação similar. Logo imaginei que seria uma boa pedida indicar peças de teatro!
Precisamos sentir um pouco de esperança e, nessas situações, a cultura é uma ótima escolha! Portanto, vamos a elas: Faz duas semanas que a nova programação do festival Teatro Vivo em Casa começou. A cada sábado, uma nova apresentação. E, apesar de estarmos exatamente no meio da temporada, não podia deixar de fazer a indicação.
Trata-se de solos de quatro artistas: Clayton Nascimento, que apresentou o espetáculo Macacos; Aysha Nascimento, que apresentou o espetáculo Preta Rainha; Angela Peres, com o espetáculo Anja, quando me fiz inteira, que acontece no próximo sábado, 03/07, às 21h00; e do querido meu querido professor e amigo Guilherme Sant’Anna, com o espetáculo Cartola’s Jazz, que acontece no outro sábado, 10/07, também às 21h00.
Neste final de semana teremos Anja, quando me fiz inteira. Trata-se de monólogo que narra o renascimento de uma mulher que, a partir de suas dores, consegue alcançar a liberdade e a plenitude: esse é o teaser da peça, que achei absolutamente inspirador. Por meio de outras figuras femininas, a personagem vai em busca de si mesma, para, finalmente, ter o controle de sua própria vida: corpo, prazer, afetos, pensamentos e ações. A dramaturgia é de autoria da atriz Angela Peres, com supervisão de direção de Marcos Reis. Imperdível!
Já, no outro sábado e última apresentação do festival, teremos o tão esperado Cartola’s Jazz. O ator Guilherme Sant’Anna, dirigido por Elias Andreato, estrelará um recital de voz e piano em homenagem ao grande mestre Cartola. Os arranjos e piano serão de Jonatan Harold. O roteiro será composto por textos e poesias de pensadores negros. Além da beleza que, tenho certeza, o espetáculo trará, o monólogo é de extrema relevância. Não podemos deixar de assistir. De novo, imperdível!
Os ingressos são gratuitos e estarão disponíveis três dias antes da data de cada espetáculo, devendo ser retirados na plataforma Vivo Valoriza, ou no perfil @vivo.cultura, no Instagram.
Então, vai a minha sugestão: vamos passar pelos tempos difíceis que vivemos embalados por muita cultura, conhecimento e esperança em dias melhores.
Afinal, como cantou Cartola: “A sorrir eu pretendo levar a vida. Pois chorando eu vi a mocidade perdida”. E, assim, O sol nascerá, título dessa canção inspiradora.
Este texto foi, originalmente, publicado no site da revista Vogue Brasil, dentro do segmento ‘Gente’. Para acessar a publicação original, clique aqui.