Durante a semana fiquei na dúvida sobre qual assunto abordar na coluna desta sexta-feira. A grande dificuldade é que o texto só começa a fluir quando, de fato, escrevo sobre o que está em meus pensamentos naqueles dias ou no momento. Mas, nem sempre – como é natural – o que penso é novidade ou de interesse geral, e isso me deixa aflita: não posso ser repetitiva, ao mesmo tempo em que mantenho, comigo mesma, o compromisso de sempre ser franca ao escrever, falar o que realmente tenho vontade de compartilhar com os leitores. Suponho que é assim que vamos nos aproximar.
Digo isso porque, nos últimos dias as minhas reflexões giraram em torno do ofício de atuar. Isto é, como fazer do teatro e da arte de representar uma profissão. E, para quem não leu minhas colunas anteriores, tratei desse assunto, ainda que lateralmente.
Entretanto, o que preciso confessar desta vez, e que ainda não havia dito por aqui, é que mesmo sabendo das coisas maravilhosas que o teatro como ofício pode proporcionar, escolher seguir essa profissão implica em angústias: “isso vai dar certo?”; “é possível viver de teatro no Brasil?”
Por conta desses questionamentos, que certamente encontram eco nas inseguranças de todo iniciante nessa arte milenar, há pouco mais de um ano, tive a ideia de registrar a trajetória de artistas, todos eles com fortes relações como o nosso teatro, por meio de lives (em meu perfil do Instagram @infoteatro_), para que, assim, pudéssemos entender como foi para cada um deles escolher essa profissão e, talvez, encorajar quem queira segui-la.
Afinal, como escreveu Plínio Marcos (1935-1999) – importantíssimo dramaturgo brasileiro – em texto para comemorar o Dia do Ator: “O ator tem que saber que, para ser um ator de verdade, vai ter que fazer mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios. É preciso que o ator tenha muita coragem (…)”.
Conversei com mais de 40 artistas até agora e, depois de pouco mais de um ano de conversas, todas elas estimulantes, cada uma à sua maneira, uma conclusão parece-me unânime: a profissão do ator é difícil, mas muito gratificante, e essas angústias fazem parte da trajetória de muitos deles.
Como disse o admirável ator e diretor Elias Andreato: “Eu me lembro todos os dias desse estado melancólico, que acomete a gente nessa idade. (…) Isso é só a gente que vive; quem está de fora não consegue entender. Internamente é esse desejo de existir nesse universo… A cabeça fica latejando com tantos pensamentos e sonhos…”
Conhecer a vida de outros artistas tem sido algo fundamental para mim que sou jovem e pretendo seguir na profissão. E estou certa de que a transmissão dessas experiências e ensinamentos vem sendo útil também para outros artistas novatos ou para quem ainda cogita se lançar nesse desafio.
A partir de grandes nomes da arte do teatro, da propagação de suas vivências e angústias que agora sei serem próprias da atividade, é possível enxergar que, mesmo com dificuldades, é possível. O teatro, as artes cênicas, podem, sim, ser um meio de vida, apesar de todos os percalços, mesmo em um país que não cultiva a cultura como algo essencial.
Além disso, paralelamente à realização das lives, tenho me dedicado também à leitura da biografia de grandes artistas, o que sempre tranquiliza minha alma e faz ver que nenhuma trajetória vitoriosa é um caminho só de glórias. Neste sentido, posso recomendar, sem receio:
Cartas a Uma Jovem Atriz (Marília Pêra, Campus), Fernanda Montenegro: Prólogo, ato, epílogo (Fernanda Montenegro, Companhia das Letras), Maria Ruth (Ruth Escobar, Editora Guanabara); Elis Regina: Nada Será como Antes (Julio Maria, Editora Master Books); Elias Andreato: A Máscara do Improvável (Dirceu Alves Jr., Humana Letra); Uma Atriz: Cacilda Becker (Nanci Fernandes e Maria Thereza Vargas, Editora Perspectiva); Eva Wilma: Arte e Vida (Edla Van Steen, Imprensa Oficial).
Mais recentemente veio a público a biografia de Sérgio Mamberti (Sérgio Mamberti: Senhor do Meu Tempo, Edições Sesc São Paulo), que tem como coautor o jornalista Dirceu Alves Jr. – essa ainda não li, mas já está no topo da minha lista!
Por fim, outro título que vale muito a pena e que tem tudo a ver com a nossa prosa é A Glória e seu Cortejo de Horrores (Companhia das Letras), livro de autoria da atriz e escritora Fernanda Torres. O romance conta a estória de um ator dos anos 60, e os inúmeros caminhos que percorreu durante sua acidentada carreira artística. A leitura é divertidíssima e oferece uma gama de lições para quem queira se aventurar nesse ramo.
Mas por que interessa recomendar aqui esse meio de conhecer a trajetória de grandes artistas, se nem todo leitor e leitora – imagino eu – pretende seguir a profissão de ator, atriz ou outras tantas atividades afins? Porque posso afirmar que será excelente maneira de conhecer a história do teatro nacional, enriquecer-se culturalmente, abrir-se para um mundo conhecido e frequentado por poucos, além, é claro, de proporcionar diversão garantida com boa leitura.
Este texto foi, originalmente, publicado no site da revista Vogue Brasil, dentro do segmento ‘Gente’. Para acessar a publicação original, clique aqui.