Nesta semana, entendi que escrever uma coluna semanal implica renunciar a pautas previamente estabelecidas para dar lugar a temas que se impõe pela sua importância.
Na noite de terça-feira, 04.05, o Brasil recebeu a triste notícia do falecimento de uma de suas grandes estrelas: Paulo Gustavo, vítima de Covid-19.
Muito foi dito sobre essa dramática perda, mas não é demasiado dizer mais. Em razão dos dias difíceis pelos quais estamos passando, a reflexão tornou-se imprescindível. A morte do humorista, aos 42 anos, quase que instantaneamente, inundou as redes sociais com fotos, mensagens de afeto e indignação. Gregos e troianos manifestaram suas dores. Raras vezes se viu a união de tantos artistas consagrados para aplaudir um colega. Mas, com Paulo Gustavo, não poderia ser diferente!
Em um País que padece de desvalorização da cultura, ele representava a figura do artista por excelência: foi capaz de unir muitas pessoas em torno da arte. Assim, gostaria de dedicar esta coluna a esse artista fundamental. Diante de sua grandeza, a homenagem, apesar de singela, faz-se necessária.
Paulo Gustavo era um legítimo representante da força do teatro nestes tempos. Ao pensar a respeito da falta de público, assunto recorrente no mundo teatral, logo me vinha à mente Minha Mãe é Uma Peça –, monólogo protagonizado por ele (mais de 500 mil pessoas assistiram à peça), que lhe rendeu, inclusive, indicação ao Prêmio Shell de Teatro de melhor ator em 2006. No cinema, foi recorde de bilheteria.
Com Paulo Gustavo não havia teatro vazio! Seu carisma e talento lotavam as salas de espetáculos. Isso não pode ser esquecido quando se trata de reverenciá-lo. É preciso pensar sobre as razões que levaram a tamanho sucesso e alcance popular.
Ele também era reconhecido entre seus pares por sua especial generosidade. Antes de ser um fenômeno artístico, Paulo Gustavo era uma pessoa espetacular, conforme relatado por um rol infindável de amigos. E isso parece essencial para um artista ser capaz de, a partir da expressão artística, mover e inspirar, quebrar preconceitos, afetar seu público, tudo o que fez Paulo Gustavo! Por essas razões, e de outras com igual relevância, ele sempre será uma referência.
Paulo Gustavo ainda haverá de simbolizar a violência a que estamos submetidos neste momento. É importante lembrar que no dia 04 de maio de 2021, além dele, mais de 3.000 brasileiros perderam a guerra contra o vírus, data em que o Brasil chegou à trágica marca de quase 412.000 mortos por Covid-19. E o que é lastimável e revoltante sob todos os aspectos: sucumbiram por doença para a qual já existe vacina!
Em meio a atual pandemia de coronavírus, a morte de milhares de anônimos – noticiada dia após dia – tornou-se algo trivial, que parece já não causar tanto espanto. Mas, precisamos lembrar, sempre, que se trata de pessoas, e não apenas números, ideia repetida tanto quanto necessária – e o desaparecimento de Paulo Gustavo é revelador nesse sentido. São vidas perdidas, que lutavam para viver com dignidade em um País devastado por dilúvio de indecências.
A pandemia já levou artistas como Edson Montenegro (ator); Ismael Ivo (coreógrafo e dançarino); Nicette Bruno (atriz); Cláudio Petraglia (diretor); João Acaiabe (ator); Agnaldo Timóteo (cantor); Eduardo Galvão (ator); Gésio Amadeu (ator); Aldir Blanc (compositor); Marizilda Rosa (atriz); mais recentemente Penha Pietras (atriz que tive o privilégio de conhecer, dona de personalidade marcante, fundadora do grupo de teatro Os 16 Meninos); e, agora, Paulo Gustavo (ator e humorista), entre outros.
Quantos mais ainda teremos de perder…
O País chora a morte de tantos brasileiros. O Brasil está perdendo suas estrelas. O show não pode continuar. É urgente estancar esse flagelo para a preservação da vida e da arte. Viva Paulo Gustavo, ainda que seja na nossa memória!
Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Vogue Brasil.
Este texto foi, originalmente, publicado no site da revista Vogue Brasil, dentro do segmento ‘Gente’. Para acessar a publicação original, clique aqui.