Com elenco feminino, Parque Industrial, romance de Pagu, faz temporada na Oficina Oswald de Andrade
Dirigido e adaptado por Gilka Verana, a peça revela como temas abordados pela escritora e ativista política há quase 90 anos ainda persistem na vida das mulheres: o machismo, a exploração da mulher, o assédio sexual no trabalho, a violência doméstica, a desigualdade de classe e gênero, o racismo estrutural
Idealizada pela diretora Gilka Verana, Parque Industrial é uma adaptação para o teatro do livro de 1933, da escritora e ativista política Pagu. O romance proletário, como definiu a própria autora no subtítulo da edição, aborda a vida de mulheres trabalhadoras no início do século XX, em uma reflexão sobre as condições de classe e gênero principalmente. A peça faz temporada a partir do dia 1º de fevereiro e segue em cartaz até dia 16, na Oficina Cultural Oswald de Andrade. As apresentações são gratuitas.
A escritora, diretora, tradutora, jornalista e militante política Patrícia Galvão, a Pagu, publicou o livro sob o pseudônimo de Mara Lobo. A obra faz um retrato da cidade de São Paulo da década de 1930 e expõe de forma crua as condições de abandono e exploração no cotidiano das mulheres trabalhadoras. “A obra de Pagu tem como temas principais a luta de classes e as mulheres operárias. Na peça, quis criar uma conexão com nosso tempo, a São Paulo que vivemos e também trazer um olhar para o protagonismo feminino no enfrentamento das mazelas produzidas pelo capitalismo”, revela Gilka Verana sobre a adaptação da peça feita por ela.
Verana também mergulhou no trabalho de Pagu para atualizar o debate sobre a participação feminina atual nos cenários cultural e social brasileiro. Com uma equipe 100% feminina, o espetáculo revisa assuntos denunciados por Pagu há quase 90 anos: o machismo, a exploração da mulher, o assédio sexual no trabalho, a violência doméstica, a desigualdade de classe e gênero, o racismo estrutural. “São pautas hoje amplamente discutidas, mas que já estavam em ebulição na época e foram apontadas por Pagu a partir de um ponto de vista feminino e feminista.”, coloca Gilka.
A diretora conta que a peça lida com as questões políticas e sociais do romance proletário de Pagu e também com a materialidade poética de sua escrita. Para Gilka, Pagu faz denúncias sobre a situação feminina em diferentes classes sociais, tanto no ambiente social quanto no privado. “Pagu critica também a feminilidade que performa para agradar ao patriarcado e o feminismo elitista. Ela não apazigua. Ela nos faz confrontar e nos apropriarmos dessa discussão ao mesmo tempo que abre os caminhos para refletirmos sobre nossa condição atual enquanto mulheres, trabalhadoras e artistas”, revela a diretora.
Diferentemente do livro, que conta com três principais protagonistas, a peça traz onze mulheres em cena, todas com destaques, com linhas narrativas que se constroem e dissipam. Sem a presença de homens, as personagens masculinas são representadas de diferentes formas: um manequim, máscaras, vozes em off, leituras das falas dos homens feitas pelas atrizes.
“Esse olhar vivo em relação ao seu próprio tempo define a importância do resgate dessa obra, principalmente ao constatarmos que se tratam de desafios sociais enfrentados ainda hoje em batalhas contra praticamente as mesmas opressões e desigualdades”, finaliza a diretora.
O romance proletário de Pagu
O livro Parque Industrial faz uma transposição literária da fala e do modo de vida da mulher proletária em São Paulo na década de 1930, e tem como cenário o bairro do Brás, um dos mais representativos da entrada do trabalho industrial no Brasil.
É ao redor das fábricas de tecelagem dessa região que acompanhamos a trajetória de três mulheres: Corina, que se torna trabalhadora do sexo ao ser demitida por engravidar e não ser casada; Eleonora, que escapa da pobreza ao se casar com o rico Alfredo Rocha; e Otávia, uma militante que também se envolve com Alfredo.
São personagens nada heróicas, carregadas de desilusão, dor, desespero e falta de perspectiva, que buscam sobreviver em meio ao movimento dilacerante do progresso da cidade de São Paulo.
O enredo não se limita à trajetória das três personagens mencionadas aqui. Ele se apresenta como um mosaico complexo de uma cidade vista sob uma lente de aumento narrativa que amplia a perspectiva do lado voraz do progresso. A cidade de São Paulo, portanto, torna-se uma personagem tanto quanto as próprias mulheres.
Ficha Técnica
Uma adaptação para o teatro do romance Parque Industrial de Patrícia Galvão | PAGU | Mara Lobo
Direção e Adaptação: Gilka Verana
Produção: Aura Cunha e Yumi Ogino
Elenco: Barbara Garcia, Bruna Betito, Emilene Gutierrez, Ericka Leal, Flávia Rossi Tápias, Letícia Bassit e Tati Caltabiano
Composição musical, piano e operação de som: Natália Nery, Lana Scott e Clara Kok
Direção musical e teclado: Natália Nery
Assistente de direção musical, técnica de som e baixo: Lana Scott
Sax e Flauta: Clara Kok
Participação Especial: Gabriela Menezes (Cantora Lírica)
Preparação Corporal e Desenho de Movimento: Paula Petreca
Cenografia e Figurino: Silvana Marcondes
Assistência de Cenografia e Figurino: Carolina Petrucci e Maria Vitória Royer
Videografia: Bianca Turner
Assistente de Videografia: Vic Von Poser
Iluminação: Danielle Meireles
Provocação Cênica: Janaina Leite e Cris Rocha
Provocação Dramatúrgica: Dione Carlos
Colaboração na Investigação Vocal: André Capuano
Costuras: Judite de Lima, Marcelo Leão, Oficina de costura Nicolle e Lika Alves
Construção de Cenário: Edilson Quina ( Urso ), Cíntia Matos e Julio Dojcsar
Montagem: Cezar Renzi
Intérprete de Libras: Mirian Caxilé e Lilian Lino
Imersão Urbana: USO – Teatro Urbano
Imersão Litoral: Mariana Pereira
Assessoria de Imprensa: Canal Aberto Comunicação | Márcia Marques
Fotos de Divulgação: Jennifer Glass e Andréa Menegon
Apoio: Oficinas Culturais Oswald de Andrade
Texto disponibilizado pela produção do espetáculo.