Em junho de 2021, escrevi para Vogue sobre o fechamento do Viga Espaço Cênico – teatro muito charmoso, palco de inúmeras produções do teatro independente em São Paulo, que teve sua estrutura demolida, vítima da especulação imobiliária. O Viga – é sempre bom lembrar (relembraremos sempre!) – foi espaço essencial da vida cultural paulistana. Ficou na memória de muitos de nós, espectadores e artistas.
Naquela oportunidade, escrevi: “Não se pode esquecer que o fechamento de um teatro não é só uma perda para os artistas, mas também para a sociedade em geral! Isto porque, os teatros representam espaços de exercício do pensamento vivo.” Não é à toa que os últimos anos foram tão difíceis para a cultura brasileira… Teatros fechando definitivamente suas portas, dificuldades para produzir peças no país, muitos artistas sem poderem exercer seu ofício, falecimento de ícones do mundo artístico e cultural (vítimas da covid-19), desmoralização da cultura por quem, então, ocupava o poder. Vamos esperar que tudo isso tenha ficado para trás…
Mas, há boas novas! Parece que aos poucos a maré está virando. Com alegria e expectativa de outros tempos, escrevo, agora, para compartilhar a abertura de um novo espaço cultural na capital paulistana! Um mar de possibilidades artísticas – foi essa a sensação que tive ao adentrar no Gênese – Estúdio de Criação.
Estúdio de podcast, café-bistrot, camarins, salas para ensaios e apresentações de teatro, dança, shows, produções audiovisuais. Enfim, um espaço dedicado ao cultivo da cultura localizado no coração da cidade, bastante equipado para receber as mais diversas criações artísticas.
Tive a oportunidade de conversar com os gestores e produtores do projeto, Eric Lenate e Alexandre Galindo. Confiram o nosso bate-papo.
Quais são as expectativas de inaugurar um novo espaço cultural em São Paulo?
Eric Lenate: A gente vem conversando há muito tempo sobre esse projeto. Passamos por muitas variações da ideia, até chegar neste centro multidisciplinar. Planejávamos inaugurar algo que pudesse abraçar várias frentes de criação. E que, também, tivesse ambientes que abarcassem trabalhos diferentes ao mesmo tempo, a depender das necessidades de cada produção. Acho legal a inauguração ser em 2023, depois dessas eleições loucas, em outro momento do país, diante de uma nova mentalidade que está se movimentando no povo como um todo. Para mim, é bastante revigorante, como se fosse uma resposta que arquitetamos e construímos para a devastação e dificuldades dos últimos anos. Por mais que seja ousado e arriscado, é extremamente importante fazer isso agora. Construímos o enfrentamento ao descaso e ao desmonte da cultura, a partir de um espaço novo, para receber e dar vasão a novas criações. Me sinto aliviado de dar forma a essas ideias!