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A Jornada de Ser Atriz à Luz de Epifanias Noturnas: O Show

Coluna Por Natália Beukers

O caminho para me tornar atriz tem sido uma experiência intensa, marcada pela convivência constante com a incerteza e a insegurança, além do desejo intenso de alcançar certas expectativas. Muitas vezes questionei minha escolha — ou seria uma condenação? — de seguir essa profissão. Na minha mente, isso parecia um esforço incessante, quase desesperado, para conquistar algo, como se existisse um modelo a ser seguido. A atriz que eu idealizava já teria vivenciado inúmeras experiências, enfrentado desafios e emergido mais forte, mais experiente. Ela teria encontrado as respostas que procuro e chegado ao destino que deveria.

Com o tempo, percebi que essa figura idealizada não existe. O que restou foi a decisão de abandonar a busca pela grandeza. Talvez ser atriz seja, na verdade, aceitar as imperfeições, os erros e as dúvidas. A atriz que almejo ser, quem sabe, seja aquela que abraça sua fragilidade e, ainda assim, segue em frente, sem pressa de atingir um ideal inatingível.

Esses pensamentos me acompanharam enquanto assistia ao espetáculo Epifanias Noturnas: o Show, de Manuela Pereira. Ver uma artista tão autêntica criando uma apresentação a partir de suas próprias experiências e reflexões sobre a vida e os dilemas da juventude foi profundamente inspirador. Manuela nos guia por uma jornada musical e cômica, abordando, com leveza e humor, questões existenciais relacionadas à transição para a vida adulta e à inserção no mercado artístico. Ela não busca a perfeição, mas a honestidade de quem transforma suas angústias em arte — um exemplo de verdadeira epifania para mim.

Enquanto assistia Manuela, seus questionamentos ressoaram com os meus. A dor e a beleza de encontrar respostas dentro de si mesma, de criar a partir da vulnerabilidade, me tocaram profundamente. A jovem que está à beira dos 30 anos, tentando entender suas escolhas e sua trajetória, não é apenas uma personagem no palco, mas um reflexo de muitas de nós, que nos questionamos constantemente sobre o que realmente significa ser alguma coisa, ou um certo alguém.

Pereira se permite ser ela mesma, sem a necessidade de provar nada a ninguém. O processo artístico, para ela, não é sobre alcançar uma meta distante, mas sobre viver o presente, refletir e seguir em frente, abraçando as dúvidas e as inseguranças. Neste ponto, o que poderia se tornar maçante, devido ao teor autoficcional, não ocorre. O solo de Manuela mostra que a beleza da criação está nas questões, nas reflexões e nas vivências que, ao serem compartilhadas, ganham uma nova dimensão.

Epifanias Noturnas: O Show, espetáculo dirigido por Helena Fraga, ensina que o mais importante não é a busca por uma resposta definitiva, mas viver o processo com tudo o que o envolve, aproveitando-se das angústias e inquietações. A jornada de ser atriz não é sobre atingir um ideal distante, mas seguir em frente com leveza, rindo e refletindo sobre o que somos.

Além disso, Epifanias Noturnas: O Show se apresenta como uma excelente opção para o público jovem, uma faixa etária frequentemente deixada de lado no teatro. Muitas vezes, as produções são voltadas para crianças ou para adultos. Essa peça, no entanto, encontra um equilíbrio perfeito, tratando das questões da juventude de uma forma cativante e acessível. A obra traz uma reflexão profunda sobre os dilemas da transição para a vida adulta, sendo uma recomendação imperdível para quem está nessa fase da vida.

Tive também a oportunidade de conversar com Manuela Pereira e com a diretora Helena Fraga, em uma entrevista onde discutimos o teatro contemporâneo e nossas expectativas e reflexões sobre as artes dramáticas em tempos atuais. Foi uma conversa reveladora, que aprofundou ainda mais meu entendimento sobre o espetáculo e sobre os desafios e as potências do teatro na atualidade. Ao longo da entrevista, refletimos sobre a importância de criar para o público jovem e sobre o papel do teatro em tempos de grandes transformações sociais e culturais.

No final, Epifanias Noturnas: O Show é uma verdadeira celebração da busca pelo autoconhecimento e pela autenticidade. Com seu humor, leveza e coragem, Manuela e Helena nos convidam a refletir sobre nossas próprias inseguranças e a beleza que podemos encontrar mesmo nas perguntas sem resposta.

Ficha Técnica:
Dramaturgia e atuação: Manuela Pereira
Direção e supervisão de dramaturgia: Helena Fraga
Desenho de luz e operação: Dener Moreira
Operação de som: Felipe Aidar
Trilha sonora e Arranjos: Luca Colferai
Figurino: Bebs Melo
Cenário: Renan Ramiro

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Sobre
Natália Beukers

Natália Beukers

Atriz e criadora do Portal Infoteatro, formou-se em Direito pela PUC-SP (2020). Começou a estudar teatro aos 10 anos, formando-se como atriz em 2017. Entre 2017 e 2021, estudou com os atores do Grupo TAPA, participando de três espetáculos: “Anatol”, “O Jardim das Cerejeiras” e “Um Chá das Cinco”, além de ter sido assistente de produção em mais de 10 temporadas da companhia. Professora de teatro desde 2022, atualmente cursa licenciatura no Célia Helena Centro de Artes e Educação. Embaixadora do Teatro B32, também já colaborou com a Folha de S. Paulo e com o segmento 'Vogue Gente', da Vogue Brasil, entre 2021 a 2023, onde publicou mais de 50 textos sobre teatro. Desde a criação do Infoteatro, em abril de 2020, entrevistou mais de 100 profissionais da área teatral.

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