Reparem! Todos buscam identificar-se: os atores querem se identificar com as personagens que representam – isso quando há personagem para representar e não uma identificação com a própria história autobiográfica já devidamente identificada nesse fluxo gostoso de memórias próprias e identificáveis -, a plateia clama por ver-se ali, identificada na identificação dos artistas de cima do palco. E assim todos nos identificamos nessa maré de EUs se vendo numa reprodução espelhada de SI MESMOS em recuperação de experiências vividas. Ninguém quer estranheza, ninguém suporta imaginar algo distante do alcance do coração que bate no peito. Proximidade + Proximidade + Proximidade. Um teatro-terapia-divã.
O ator chama a personagem para si e chora suas dores tornando-as ao máximo as suas dores. A plateia chora com a “entrega” do ator e nesse choraminguê potente e atravessador acaba por botar ali a dor que é a sua dor também, claramente identificada pelo esforço de identificação que lhe é sugerido… E de repente bate uma saudades daquele tal de Bertolt Brecht que descobriu que a burrice de seu tempo estava justamente no feitiço da identificação. Que somos burros agora não resta dúvidas. O que falta-nos é assumir que somos estupendamente burros em contínuo exercício de companheirismo empático e identificante.
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