Segundas de Solos apresenta: Aquele Trem
No solo auto-ficcional Aquele Trem, Denise Dietrich buscou as lembranças da sua criação, os abusos e a alienação parental. Assuntos quase não falados numa época quando os castigos físicos se justificavam no discurso social e religioso como formas de amor. Como esses traumas nos transformaram em quem somos hoje? O que fazemos com o que fizeram de nós? São questões que permeiam o espetáculo. Aquele trem transita entre o documento e a ficção, entre o depoimento e a narrativa ficcional. A encenação busca potencializar esses elementos do texto, tramando desde o prólogo o pacto documental com a plateia: o público é recebido como parceiros de cena da atriz, em uma conversa informal, regada a cachaça e totalmente desprovida de teatralidade enquanto linguagem. Esse pacto, improvisado a cada apresentação, estabelece a cumplicidade entre atriz e público. A atriz recebe o público com a roupa que veio ao teatro no dia, inclusive. Aos poucos vai-se estabelecendo o acontecimento « peça teatral ». Essa mudança acontece na luz, no figurino, na trilha. Durante toda a peça a direção busca fazer a atriz transitar entre essa persona/ personagem criança – que habita a zona ficcional da peça (ainda que muitas partes da narrativa sejam não- ficcionais) e a Denise que, assumidamente atriz/autora da peça, conversa com o público. O cenário e o figurino são compostos por elementos simples que remetem a um Brasil profundo – onde as questões do machismo e do abuso do corpo da mulher estão impressas com tintas mais fortes. A iluminação é composta por temperaturas quentes, algo que remete ao aconchego do lar mas ao mesmo tempo explora as cores presentes em cidades do interior. A trilha é baseada nas memórias de Denise, transita entre o sertanejo, o grupo pop A-ha e nomes da música popular como Odair José. Brincadeiras infantis estão presentes nas ações da peça, para expor as contradições e friccionar esse trânsito entre violência e ingenuidade.
Ficha Técnica:
Texto e atuação: Denise Dietrich
Direção: Erica Montanheiro
Direção de Movimento: Bruna Longo
Diretora Assistente: Ana Elisa Mattos
Luz: Gabriele Souza
Cenografia e Arte: Kleber Montanheiro
Diretora Audiovisual: Julia Rufino
Caracterização Vídeo Marlene: Beto França
Trilha e Figurino: Erica Montanheiro
Videomapping, operação de som e projeção: Rafael Marreiros
Operação de Luz: Estrela Apolinaro
Costureira Roupa de Cima: Zenilda Bezerra
Cenotécnico: Evas Carretero
Fotos: Marcelle Cerutti e Danilo Apoena
Produção Geral: Tati Caltabiano