Dicas para Lucrar com o Fim do Mundo
Dicas para Lucrar com o Fim do Mundo, espetáculo do Coletivo Parêntesis de Teatro, chega em agosto ao Teatro Alfredo Mesquita e propõe ao público amplas reflexões sobre o fim. Afinal, não é de hoje a sensação de estarmos vivendo o fim do mundo ou a iminência dele. São vários os paralelos entre a profecia que prevê a chegada de quatro cavaleiros do apocalipse e a situação atual do mundo, seja pela Peste representada na pandemia de Covid-19 e possíveis futuras, pela Guerra representada na disseminação do ódio na sociedade, pela Fome representada no capitalismo predatório que só alimenta quem pode pagar, pela Morte, que amplamente se banaliza.
Porém, a obra denuncia por meio do humor e da sátira que, diferente do que prevê a profecia, essas ameaças não são mais desastres inevitáveis, que não se pode combater, mas são decorrentes de projetos políticos, que visam manter um sistema em que a vida é descartável e a ganância é recompensada. Aí está o absurdo. Viver em um país onde quase 700 mil morreram de uma doença quando já se tinha vacina. Viver em um país com crescimento exponencial dos casos de violência. Viver em um país que exporta toneladas de alimentos enquanto assiste a seu povo sofrer faminto.
Nos quatro atos dessa tragédia cômica (ou comédia trágica) os quatro cavaleiros são transformados em negociantes do apocalipse, cada um com o seu projeto: a Morte com uma Masterclass de como lucrar com o fim do mundo, a Peste trazendo o caos para um debate televisivo sobre como se proteger na pandemia, a Guerra lucrando com uma máquina de disseminação de ódio e discursos extremistas na internet e a Fome com o seu cruel programa de culinária, onde, junto com o seu mascote Lombriguitos e o seu maior parceiro, o Agro, ensina o povo a comer lixo.
Então, antes que esses projetos se concretizem, essas figuras trágicas e patéticas se reúnem, para que as atrizes e atores se livrem dessas personagens medonhas, façam seu coro de protesto e lancem a sua profecia:
“Se estamos vivendo o fim, que seja o fim dessa inação, que a vida não seja mais negociada e que os crimes contra ela sejam verdadeiramente responsabilizados. Que seja este terrível fim, um começo.”, conclui Pedro Tancini, ator, diretor e dramaturgo do Coletivo Parêntesis de Teatro.