Espião Silenciado – Um Ensaio
Em um Brasil ideologicamente rachado, forças conservadoras, tanto internas quanto externas, articulam a derrubada de um governo eleito. Milícias anticomunistas espalham desinformação e recorrem à violência para desestabilizar a ordem. Parece familiar? Pois essa é a atmosfera de 1963, retratada de forma provocadora na peça que mergulha no clima tenso da Guerra Fria e parte de um episódio obscuro da nossa história: a misteriosa morte do agente duplo da Marinha, José Nogueira, que caiu do alto de seu apartamento no centro do Rio de Janeiro. Um dia depois, o caso foi arquivado como acidente. Mas teria sido mesmo?
A peça convida o público a investigar esse enigma junto ao repórter investigativo que dá nome à trama, reconstruindo os passos do espião e os jogos de poder que antecederam a instalação da ditadura militar no Brasil. Ao mesmo tempo, o espetáculo estimula comparações com o cenário político atual, revelando como os fantasmas do passado ainda assombram o presente.
“O espetáculo Espião Silenciado – um Ensaio apresenta-se como uma investigação cênica que articula memória histórica, teatralidade documental e linguagem ensaística. Sob a direção de João Alves e com dramaturgia colaborativa inspirada na pesquisa histórica de Raphael Alberti, a montagem se estrutura como um exercício de escavação crítica da história recente do Brasil, tendo como eixo a misteriosa morte do jornalista investigativo José Nogueira, em 1963, às vésperas do golpe civil-militar. Combinando rigor documental com liberdade criativa, a obra constrói uma linguagem marcada pela metáfora visual, potencializando o pensamento crítico como principal vetor expressivo. As atuações de Arô Ribeiro, Manuel Boucinhas, Rodrigo Ramos e Luiz Campos revelam um teatro crítico. Longe de buscar identificação emocional imediata, o elenco opta por um distanciamento estratégico, modulando a interpretação de modo a provocar reflexão, e não apenas empatia. A direção opera como estrutura articuladora do pensamento crítico, orquestrando com precisão a fragmentação formal, a pluralidade discursiva e a materialidade do gesto cênico.” Crítica escrita por Bob Sousa, fotografo, crítico teatral e jurado do APCA.
A dramaturgia é inspirada na dissertação de mestrado do historiador Raphael Alberti, fruto de 12 anos de pesquisa, que deu origem também a um livro e um podcast sobre o caso. A encenação é assinada pelo Grupo Teatro d’Água, com atuações de Arô Ribeiro, Manuel Boucinhas, Rodrigo Ramos e Luiz Campos, sob direção e organização dramatúrgica de João Alves, cenário e figurinos de Julio Dojcsar, trilha original de Danilo Pinheiro, iluminação de João Alves e Lívia Nunes, Produção de Vanda Dantas e arte, fotos e vídeo de Paulo Brazyl.