A peça joga luz sobre a trajetória da poeta romântica fluminense Narcisa Amália (1852-1924).
Comparada a Gonçalves Dias e Castro Alves e primeira mulher a tornar-se jornalista profissional no Brasil, Narcisa Amália teve memória e obra sujeitas ao sistemático silenciamento das vozes femininas na história literária brasileira.
Tendo seu talento reconhecido por Machado de Assis e todo meio literário de sua época, além do imperador Pedro II, Narcisa Amália foi poeta, jornalista, abolicionista, republicana, defensora ferrenha dos direitos da mulher e da educação.
O projeto se dedica a trazer à tona a memória da poetisa e sua obra que, apesar de reconhecida pelo meio literário, foi alvo de apagamento, assim como a de muitas artistas mulheres, ao longo dos séculos.
“A história de Narcisa Amália, da ascensão abrupta ao ostracismo, é trágica porque é exemplar. Incontáveis mulheres escritoras foram contestadas, subestimadas e apagadas da história literária brasileira. Para ter algum reconhecimento, dependiam da validação masculina – o que Narcisa Amália teve amplamente. O pai (que estimulava seus estudos e seu trabalho), os poetas românticos (de quem tornou-se musa), Machado de Assis (que escreveu sobre sua obra), Dom Pedro II (que fez questão de conhecê-la e foi visitá-la), todos contribuíram para seu sucesso. Figuras masculinas também usaram sua notoriedade para deflagrar uma onda de críticas pessoais e acusações, tamanho o descontentamento com o teor dos poemas e artigos de Narcisa. O efeito disso foi devastador para sua produção poética.”, conta a atriz e dramaturga Cilene Guedes.
A MONTAGEM
O texto é composto por íntegras e trechos de documentos históricos e poesias. A voz de Narcisa e o pensamento da época chegam ao espectador através de um filtro feminino, formado por quatro atrizes unidas às demais artistas da cena – desde a autora, Cilene Guedes, até Joana Lebreiro (direção), passando por Marieta Spada (cenário e figurino), Ana Luzia de Simoni (iluminação), Gabriela Estevão (atriz e diretora assistente), Claudia Castelo Branco (diretora musical).
A adaptação da história de Narcisa para o palco aprofunda a pesquisa cênica da Cia Baú da Baronesa, de apropriação dramática de textos documentais e não teatrais e de temas relacionados à liberdade da mulher. A pesquisa cênica iniciou-se com “Jumbo” (2011-2015), com dramaturgia também de Cilene Guedes, abordagem documental sobre as vidas de mulheres que visitam presos.
NARCISA AMALIA
“Eu diria à mulher inteligente […] molha a pena no sangue do teu coração e insufla nas tuas criações a alma enamorada que te anima. Assim deixarás como vestígio ressonância em todos os sentidos” (Narcisa Amalia)
Poeta, jornalista, abolicionista, republicana, defensora ferrenha dos direitos da mulher e da educação, comparada a Gonçalves Dias e Castro Alves, Narcisa Amália foi a primeira mulher a tornar-se jornalista profissional no Brasil.
A poetisa fluminense, um dos nomes de expressão da poesia romântica brasileira, teve memória e obra sujeitas ao sistemático silenciamento das vozes femininas na história literária brasileira. A recepção da sociedade oscilou de prêmios e louvores a acusações de conduta libertina e de não ser autora de suas obras.
O seu único livro de poesias, “Nebulosas”, foi escrito aos 20 anos. O livro foi publicado pela mais famosa editora brasileira à época, a Garnier, que patrocinou todos os gastos da impressão. Em 1873, Narcisa recebeu o prêmio “Lira de Ouro” por conta dessa obra. Em setembro de 1874, recebeu o prêmio da Mocidade Acadêmica do Rio de Janeiro, uma pena de ouro entregue pelas mãos do conselheiro Saldanha Marinho.
Na juventude, foi tradutora de George Sand (pseudônimo masculino da autora francesa Amandine Aurore Lucile Dupin) – ambas escritoras, republicanas, descasadas, defensoras da liberdade da mulher. Mas encontrou destino oposto ao da dama da literatura francesa. Narcisa morreu aos 72 anos, cega, diabética, sem mobilidade, afastada da literatura (que trocou pelo magistério) e esquecida nos meios intelectuais onde circulou com grande prestígio.
FICHA TÉCNICA:
Direção: Joana Lebreiro
Diretora assistente: Gabriela Estevão
Elenco: Cilene Guedes, Gabriela Estevão, Jacyara de Carvalho e Nina Pamplona
Diretora de arte: Marieta Spada
Trilha sonora: Cláudia Castelo Branco
Iluminação: Ana Luzia de Simoni
Pesquisa: Cia Baú da Baronesa (Cilene Guedes, Letícia Milena, Naiana Borges e Nina Pamplona)
Direção de Produção: Carolina Bellardi e Felipe Valle
Produção Executiva: Fernando Queiroz
Realização: Pagu Produções Culturais
Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany