Sesc recebe estreia de NEVA, espetáculo da Armazém Companhia de Teatro, com texto do dramaturgo chileno Guillermo Calderón
Versão cênica de Paulo de Moraes, indicada ao Prêmio Shell Rio de Janeiro nas categorias de
melhor direção e iluminação, celebra 35 anos de formação da Armazém Companhia de Teatro.
NEVA* é uma peça escrita em 2005 pelo dramaturgo e diretor de teatro chileno Guillermo Calderón. A peça se passa em São Petersburgo, então capital do Império Russo, em um dia de 1905. Não em um dia qualquer, mas em 9 de janeiro de 1905, no dia que ficou conhecido como Domingo Sangrento, quando manifestantes que marchavam para entregar uma petição ao Czar, pedindo melhores condições de trabalho nas fábricas, foram fuzilados pela Guarda Imperial. A ação de NEVA, no entanto, se passa dentro de um teatro, onde um ator e duas atrizes que iriam se encontrar para ensaiar “O Jardim das Cerejeiras”, acabam, meio sem querer, se abrigando do massacre que acontece nas ruas. O espetáculo cumpre temporada no Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, de 14/4 a 14/5, sextas e sábados, às 21h, e domingos e feriados, às 18h.
Uma das atrizes trancada dentro do teatro é a alemã Olga Knipper (Patrícia Selonk), primeira atriz do famoso Teatro de Arte de Moscou e que foi casada com o dramaturgo russo Anton Tchekhov. Sentindo-se incapaz de representar, depois da morte do marido por tuberculose acontecida há seis meses, e na tentativa de seguir vivendo – enquanto lá fora a cidade desaba –, Olga instiga Masha (Isabel Pacheco) e Aleko (Felipe Bustamante) a encenarem repetidamente com ela a morte de Tchekhov.
A partir desse desassossego, entre incertezas artísticas e embates políticos, a pergunta que mais se impõe é “para que serve o teatro?”. Com um humor feroz, Calderón escreve sobre uma Rússia conflagrada politicamente no início do século 20, mas reflete sobre o seu Chile da década de 1970 e, talvez, sobre o Brasil desses anos obscuros, tempos em que “tudo o que tem água está congelado, inclusive os homens”.
A discussão proposta pelas personagens oscila entre a afirmação da absoluta necessidade da arte “temos que fazer teatro. Temos que fazer uma peça que nos cure a alma.” e da sua total irrelevância “pra que perder tempo fazendo isso? O teatro é uma merda. Querem fazer algo que seja de verdade: saiam às ruas”.
– Calderón propõe um tipo de teatro que me encanta porque é um teatro eminentemente político, mas que se propõe a mergulhar em uma linguagem poética cortante e num humor extremamente ácido. A partir de acontecimentos surpreendentes, no meio de muitas tosses e promessas vagas de amor, ele levanta perguntas muito provocativas. Perguntar bem, perguntar mais e melhor, esse é o teatro que me interessa –, declara o diretor Paulo de Moraes.
* O rio Neva é um curso de água no Oblast de Leningrado, na Rússia, e vai desde o lago Ladoga até ao golfo da Finlândia passando pela cidade de São Petersburgo. Apesar do modesto comprimento, é o terceiro maior rio europeu em termos de volume de água.
Ficha técnica:
Texto: Guillermo Calderón
Montagem: Armazém Companhia de Teatro
Direção: Paulo de Moraes
Tradução: Celso Curi
Elenco: Patrícia Selonk (Olga Knipper), Isabel Pacheco (Masha) e Felipe Bustamante (Aleko)
Interlocução Artística: Jopa Moraes
Iluminação: Maneco Quinderé
Música: Ricco Viana
Figurinos: Carol Lobato
Instalação Cênica: Paulo de Moraes
Maquete ‘Teatro de Arte de Moscou’: Carla Berri
Mecânica da Maquete: Marco Souza
Assessoria de Imprensa: Ney Motta
Design Gráfico: Jopa Moraes
Fotografias: Mauro Kury
Preparação Corporal: Patrícia Selonk e Ana Lima
Técnico de Montagem: Djavan Costa
Assistente de Produção: Malu Selonk e Amanda Rumbelsperger
Produção Local São Paulo: Pedro de Freitas
Produção: Armazém Companhia de Teatro