Joao Schmidt volta aos palcos em “Pai-de-Deus”, que celebra os 60 anos da dramaturgia de Valter Sobreiro Junior
O apelido usado por um torturador nos sombrios anos da ditadura brasileira, que também remete sonoramente a pas de deux, um passo em dupla no balé, nomeia o espetáculo teatral “Pai-de-Deus”, que estará em cartaz na Sede Cia dos Atores, na Lapa, nas quartas e quintas (dias 5, 6, 12 e 13) de abril, às 20h.
A peça comemora os 60 anos de carreira do dramaturgo Valter Sobreiro Junior e o retorno aos palcos do ator Joao Schmidt. Joao Schmidt vive um senhor que recebe duas visitas de um jovem, interpretado por Germano Rusch. Não sabemos ao certo quem são esses personagens, mas os conflitos que surgem apontam para memórias terríveis que os ligam a um passado comum: a ditadura militar. Em meio a culpas, remorsos, desespero e violência, eles se vêem presos num jogo de forças opostas e complementares. “Entre os tantos significados potentes que a releitura desse texto traz, temos também o nosso reencontro, já que o Valter foi o diretor da minha estreia nos palcos, em 1985. As dores da ditadura ainda ecoam. Seja na memória do povo ou sob os holofotes, onde a arte faz o espectador resgatar as mais diferentes sensações”, pensa Schmidt. A participação em vídeo de Tania Fayal, sobrevivente das torturas, é um dos momentos impactantes da montagem. “Revivemos sentimentos que levam o espectador a esse período sombrio da história do nosso país, em que a tirania se impunha aos corações e mentes”, opina Rusch, nascido em 1994, ou seja, trinta anos depois do regime instaurado em 1 de abril de 1964, que deveria ser uma breve intervenção militar, mas durou até 15 de março de 1985. Foram 21 anos de censuras, torturas e assassinatos.
Joao Schmidt decidiu voltar a atuar durante a pandemia. “E quando recebi esse texto de Valter, já na primeira leitura o escolhi. Ele ecoa o golpe de 64 e, ao mesmo tempo, traz tudo o que passamos nesse último governo”, diz o protagonista. Nas duas últimas décadas, Schmidt se dedicou às produções artísticas e técnicas de nomes como Leila Pinheiro e Zélia Duncan. Ele também assina a cenografia do espetáculo. “Pai-de-Deus” tem preparação corporal de Marvin Duarte, figurinos de João Bachilli, desenho de luz e operação técnica de Fabrício Álvaro, vídeo de Alessandra Azevedo e edição de vídeo de Mateus Dias.
Além do texto, Valter Sobreiro Junior compôs a música original que permeia o espetáculo. Nascido em Rio Grande, no sul do país, Sobreiro possui uma longa e prestigiada carreira dedicada ao teatro. Liderou por anos o Teatro Escola de Pelotas, participou da montagem de inúmeros espetáculos e recebeu diversos prêmios em nível estadual e nacional, como produtor, diretor, dramaturgo, designer de luz, cenógrafo e criador de música para a cena. “As sequelas deixadas pelos horrores da ditadura brasileira não é um tema novo, mas o diferencial está na maneira em como é abordado, com uma trama psicológica densa, intrigante, tecida com pistas imprecisas e ambiguidades, de modo a manter o espectador enredado (e curioso) até o final”, escreveu a repórter Joice Lima, no site e-cult.