“Para Acabar de Vez com o Julgamento de Artaud”, de Samir Murad, volta aos palcos após 24 anos de sua estreia e apresentações por quase todo o Brasil
Reestreia no Rio, de quatro únicas apresentações, abrem a mostra de repertório “Teatro, Mito e Genealogia”, da Cia Cambaleei, mas não caí…, no Teatro Glauce Rocha, em junho, dentro do Programa Funarte Aberta
No solo-performático-processual “Para Acabar de Vez com o Julgamento de Artaud”, o ator Samir Murad, também conhecido pelo público por sua participação em várias novelas e seriados, mergulha fundo nos pensamentos de Antonin Artaud (1896-1948), explorando a trajetória do poeta dramaturgo, ator e diretor francês do início do século XX. O espetáculo se baseia em cartas, poemas, manifestos e pensamentos de Artaud, que é uma das personalidades mais instigantes do teatro mundial, e faz uma série de reflexões sobre o homem contemporâneo. O espetáculo fica em cartaz de 5 a 8 de junho – quatro apresentações (quinta a sábado às 19h e domingo às 18h), no Teatro Glauce Rocha (Funarte), no centro do Rio, abrindo o primeiro final de semana da mostra “Teatro, Mito e Genealogia”, de Samir Murad.
O título do espetáculo é inspirado no poema radiofônico de Artaud, na época censurado, ”Para Acabar de Vez com o Julgamento de Deus”, e que segundo Samir, justifica-se também em função de dar ao público a oportunidade de fazer um “julgamento” a respeito do que seria a real “loucura” de Artaud. A encenação, que se autointitula processual, é uma proposta cênica que busca um constante aperfeiçoamento das formas e conteúdos apresentados, estando assim em consonância com o projeto teatral artaudiano e que também se propõe a provocar uma transformação criativa e curativa no espectador.
A ideia da encenação surgiu a partir da tese de mestrado de Samir A Influência de Antonin Artaud sobre o trabalho do ator e diretor Rubens Corrêa (o ator é formado no Centro de Letras e Artes da Uni-Rio) e “curiosamente não foi pensado inicialmente para ser um solo e acabou tomando esse caminho por uma “fatalidade” artaudiana” pontua Samir.
“Para Acabar de Vez com o Julgamento de Artaud” explora a trajetória de Antonin Artaud, que abalou com suas ideias avançadas para a época, as certezas do Teatro e da Vida e por conta dessa inadequação social, foi considerado louco e internado durante nove anos em diversos manicômios. No palco, Samir debate as sutis fronteiras entre arte e loucura, colocando em cheque os parâmetros da normalidade e da saúde mental, a partir de textos escritos pelo poeta, dramaturgo, ator e diretor francês do início do século XX que criou o conceito de “teatro da crueldade”.
Eleito um dos 10 melhores espetáculos de 2001 pelo jornal O Globo em lista idealizada pela crítica teatral Bárbara Heliodora, o solo busca exibir facetas de Artaud, como sua relação com o movimento surrealista, o teatro, as drogas, a política e o misticismo. Murad usa elementos musicais, das artes plásticas e técnicas orientais psicofísicas como o yoga, o tai-chi-chuan e o xamanismo.
O espetáculo traça uma narrativa de passagens da vida-obra de Artaud, a partir de elementos da cena por ele preconizados e que desembocam em conceitos pós-modernos como a performance e o work in process, “tal a riqueza de possiblidades que a herança de Artaud suscita para a cena pós-dramática”, acrescenta o ator. A peça procura assim, expandir a reflexão sobre o espaço e o valor do artista na sociedade contemporânea.
“Para Acabar de Vez com o Julgamento de Artaud” tem como foco principal, a figura do ator, que evolui em cena a partir de experimentações corporais e textuais inspiradas em técnicas e conceitos orientalistas que reverberam nos outros elementos da cena, como os objetos, as projeções e a música e que funcionam com extensão do universo simbólico irradiado a partir da presença do ator. “Assim, a montagem caminha por um espaço, onde as unidades de tempo e espaço se fragmentam e onde a cena e o texto estabelecem diálogos de tintas surrealistas, onde sonho e realidade se intercalam, procurando-se criar novos significados para o sentido da representação”, pontua Samir Murad.
De acordo com Samir, a trajetória do espetáculo se articula a partir de uma bipolaridade que busca a síntese de alguns paradoxos artaudianos, como o rigor formal de repetição se conjugando a um espaço aberto para novas experiências a cada apresentação. “Artaud experimentou no corpo o pavor de ser injustiçado pela sociedade. E sentiu a carga violenta como resposta a quem não se enquadra. A psiquiatria impôs tratamentos à base de eletrochoques. E com isso usurpou seu potencial criativo durante o tempo em que ficou esvaziado por essas descargas”, explica o ator.
Sobre Samir Murad
Ator de teatro, cinema e televisão, autor e professor. É formado pela UNIRio, com pós-graduação na UFRJ, com mestrado também pela UNI-RIO. No cinema, participou de diversos longas e curtas metragens nacionais premiados. Na televisão, fez inúmeras participações na TV Globo, TV Record, Netflix e Canal Brasil. Trabalhou como dublador na Herbert Richers. Foi Professor da Faculdade da CAL. Fundou a companhia teatral Cambaleei, mas não caí…, que tem, em Antonin Artaud sua principal referência de pesquisa de linguagem cênica, inaugurada com o texto infantojuvenil de sua autoria Além da lenda do Minotauro, que também dirigiu e que foi publicado. No teatro atuou sob a direção de Augusto Boal, Bibi Ferreira, Sérgio Britto, Miguel Falabella, Paulo de Moraes, Sidnei Cruz e Gustavo Paso entre outros. Em 2001 encenou seu primeiro trabalho solo Para acabar de vez com o julgamento de Artaud e segundo a crítica de O Globo, foi um dos dez melhores espetáculos do ano. Em 2008 escreveu e encenou seu segundo solo, Édipo e seus duplos, também publicado. Em 2017, encenou, também de sua autoria O cão que sonhava lobos, um solo musical infantil, publicado com ilustrações. Em 2019 protagonizou a encenação de Educação Siberiana e estreou seu terceiro solo, Cícero – A anarquia de um Corpo Santo, que encerra a trilogia Teatro, Mito e Genealogia e que também virou livro. Em 2020 integra o elenco da novela Genesis da TV Record e apresenta seu primeiro livro de poemas e crônicas intitulado O Retorno de Netuno. Em 2022 atua em O Alienista, sob direção de Gustavo Paso, sucesso de público e crítica e em 2023 integra o elenco da novela Terra e Paixão da TV Globo e estreia seu mais recente solo O Cachorro que se Recusou a Morrer, que continua em cartaz em 2024 e que coroa como um fechamento de percurso a mencionada trilogia.
Ficha Técnica:
Criação e Atuação: Samir Murad
Textos: Antonin Artaud
Cenário: José Dias
Figurino e Adereços: Pâmela Vicenta
Trilha Sonora: Samir Murad
Desenho e Operação de Luz: Chico Hashi
Operação de Som e Imagem: Marco Agrippa
Programação Visual: Fernando Alax
Assessoria de Imprensa e Redes Sociais: Rodolfo Abreu | Interativa Doc
Produção Executiva: Wagner Uchoa
Instagram: @samirmurad.ator Facebook: Samir Murad
Direção de Produção e Realização: Cia Cambaleei, mas não caí…
Instagram: @samirmurad.ator Facebook: Samir Murad