Teatro: sangue, suor e cerveja. Não necessariamente nessa ordem. Suor sempre vai ter, ou quase sempre. Às vezes só decora o texto e sai falando, ok, ok. Tá valendo! Nada é perfeito. Levantei a questão da “decoreba” porque tava falando do suor. E suor é sinônimo de: esforço, labuta, lida, transpiração. Sinônimos, que no trabalho teatral fazem muito sentido. Não tenho nenhuma intenção aqui de polemizar o suor alheio. Polêmico… polêmico mesmo, são os cachês! Pô presta atenção, faz dez anos, no mínimo, que os cachês são os mesmos. Entra direita, sai esquerda, entra esquerda, sai extrema-direita, os cachês não mudam.
Ator de teatro é praticamente um santo que deve ser canonizado, visto que “ninguém sabe”, como vive, o que come, como se reproduz. E nem é o ator santo do Antonin Artaud (1896-1948) ou proposições do teatro da crueldade, é a crueldade do sistema mesmo. Perdão Artaud, o trocadilho infame. Falei dos cachês pra fazer um link com o sangue, captaram? Explico… em muitas ocasiões você tem vontade de tirar sangue da galera, já que eles tão tirando o seu. Se bem, que tô de boa, segurando meu réu primário, apesar de tudo.
O tópico cerveja, a gente lança a ideia nesse artigo, que se quer de alto valor intelectual (contém ironia) que é comemoração, mas na verdade, a bebida é pra manter a cota de rancor. Nem todos bebem, mas pesquisa não feita por mim, assegura que a maioria bebe. O Brasil e suas hipocrisias “obriga” a gente a beber. Logo, bebida e fofocas edificantes “garantem” a nossa quase sanidade e um mínimo de nível espiritual.
E assim continuamos, já que desistir não é uma opção. Continuamos como profissionais que somos, entregando: chegando no horário; pagando nosso transporte (que consome 20% do cachê); decorando dezenas de páginas de texto; levando nosso próprio lanchinho; rolando no chão, cantando, dançando; usando nossa própria maquiagem; produzindo conteúdo nas redes sociais (de preferência nos ensaios, pra provar que a gente ensaia); emitindo a NF, enviando aquele percentual “gostoso” pro governo; fingindo satisfação (pois ninguém merece trabalhar com gente chata); inventando uma dramaturgia, na hora das entrevistas, pra “vender” um mínimo de credibilidade.
Realmente eu não quero só levantar assuntos polêmicos, vamos com calma… muita calma nessa hora. Eu tô falando aqui, do teatro do “outro lado da ponte”: militante; temático; racializado; leis de incentivo; fomentos; premiações.
Mas nem tudo é boleto atrasado na vida do ator. Tem o teatro patrocinado pelos bancos! Empresas multinacionais! Coorporações!
Viva a Lei Rouanet!!!
Tem teatro musical! Tem o teatro que é teatro, que a classe média pagaaa pra ir! Disputa ingressos! Gente famosa-bonita-cheirosa! Camareiras, costureiras, manobristas! Ar condicionado, chamada na TV, dez figurinos pra cada ator! Teatros com cafezinhos à R$15,00!!!
Aí sim… É outro nível.
Aí sim, é teatro, sangue, suor e cerveja, ops… champanhe!
Cachês abastados.
Contas pagas.
Atores felizes.
O Serasa não conhece.
Isso é vida.
O resto é silêncio. E gente rancorosa que não faz parte desse “clube”.
Oi? Não é assim!?
Geraldooo, desce mais uma cerveja.