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Foto: Caio Galucci
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Um singelo musical para crianças bem pequenas

Assim é ‘Ursinho Pooh da Disney – O Novo Musical’, cujo trunfo são os bonecos em tamanho real muito bem ‘dublados’ por um impecável elenco de atores-manipuladores

Crítica Por Dib Carneiro Neto

Um enredo bem simplório, singelo, pueril. Nenhuma intenção de fazer “peça para todas as idades”, embora os personagens sejam bem difundidos pelo mundo e conhecidos amplamente por todas as faixas etárias. Ursinho Pooh da Disney – O Novo Musical, quase encerrando já a sua curta temporada no Teatro Villa-Lobos, em São Paulo, é assim uma opção garantida para crianças bem pequenas, que se entretém facilmente apenas com um fiapo de trama: um urso fofo querendo achar um pote de mel e precisando da ajuda de vários amigos da Floresta dos Cem Acres.

A ideia que permeia tudo é a fantasia de dar vida a brinquedos, aos bonecos (de pelúcia, em sua maioria) que as crianças vão ganhando e acumulando em seus quartos. O urso fictício criado pelo escritor inglês Alan Alexander Milne (o primeiro livro é de 1926) – hoje os direitos de todas as histórias são da Disney – logo ganhou entre os estudiosos de Psicologia Infantil o status de “objeto transicional”, ou seja, aqueles brinquedos de afeto e conforto, sobretudo de apego, que garantem o sossego emocional das crianças, sobretudo em situações especiais de seu cotidiano, como a hora de dormir, por exemplo.

Foto: Caio Galucci

Isso fica claro vendo o musical. O conceito foi muito bem explorado. Uma placidez domina o palco. Afeto, conforto, calma, ritmo lento, cores suaves. Aliás, cores até mais suaves do que normalmente a gente vê nos produtos audiovisuais derivados do livro. Parece até que passaram um filtro geral de “ternura-pastel” em toda a direção de arte da peça. O laranja do Tigrão não é tão laranja, nem o rosa do Leitão, por exemplo. Puristas podem se incomodar – e as crianças são muito observadoras e certeiras em seus “julgamentos” e comparações.

Assim como nos livros e nos filmes, o musical em cartaz também marca a passagem do tempo com especial referência às mudanças nas estações do ano. É algo muito usado nas ficções voltadas para a chamada primeira infância, por ser objetivamente claro e visível identificar que o tempo está passando. Uma folha cai da árvore, uma flor nasce no canteiro, um floco de neve subitamente despenca do céu e assim por diante. Há tudo isso no musical e de formas muito bem realizadas, com efeitos visuais agradáveis e de simples resolução. “Folhas” do outono e “neve” do inverno literalmente despencam do teto nas cabeças de parte da plateia, um recurso palpável, visualmente belo, que sempre cativa as crianças. O graveto se locomovendo sozinho pelo “lago” também é muito surpreendente e bem realizado como efeito, assim como as flores surgindo na primavera.

Foto: Caio Galucci

O rol de personagens é diversificado e encantador, como nas histórias originais. Tem a família Canguru, em que a mãe é Can e o filho é Guru, tem coelho, coruja, burro e, claro, o menino de carne e osso, inspirado no filho do autor, Christopher Robin, inclusive com o mesmo nome da criança real – três atores mirins se revezam no papel durante as sessões da temporada: Mateus Vicente, Nico Takaki e Rodrigo Thomaz.
Cada um desses personagens surge com sua característica de personalidade mantida no musical: Abel, o coelho, gosta de tudo muito arrumadinho, Leitão vive ansioso e com medo, o burro Ió sempre desanimado e triste e o Tigrão que não consegue ficar parado, sempre em constante movimento – aliás o boneco mais ágil da montagem, muito bem manipulado e com boa articulação, embora não caia tanto por cima do próprio rabo, como ficou conhecido.

Os bonecos (puppets) foram confeccionados em proporções grandes, quase do mesmo tamanho que seus manipuladores, que ficam por trás deles, à vista do público – uma das técnicas de animação ao vivo mais curiosas e que intrigam as crianças, acostumadas ao realismo do audiovisual. A trucagem revelada da manipulação às claras vira assunto entre as crianças nas poltronas e é um bom estimulo de iniciação ao teatro e suas técnicas variadas.

Foto: Caio Galucci

Pooh, o urso protagonista, não deixa de dizer suas frases de efeito de vez em quando, à guisa de “moral da história”, recurso obrigatório no formato das fábulas. Aqui, enquanto procura por um pote de mel, diz por exemplo: “Você não pode só ficar esperando que venham até você”. Ou: “Os tímidos demoram um pouco mais para demonstrar calor.” E também: “Que sorte a nossa ter amigos.” Quando Pooh e Christopher se abraçam, a plateia vem abaixo e aplaude espontaneamente, calorosamente. Prova de que as “mensagens” chegaram às crianças, com muita ternura envolvida.

Por fim, um elogio especial ao trabalho de voz de todo o elenco. Que maravilha. Técnica, entonação, volume, cadência, nuances, pontuação, emoção. Graças ao competente elenco de atores-manipuladores, todos os personagens são encantadoramente consistentes e coerentes em suas falas e seus diálogos. Essa potência e diversidade vocal são o melhor da montagem, a meu ver. Que belíssimos trabalhos de Arthur Berges (Pooh), Enrico Verta (Tigrão), Bel Nobre (Leitão/Guru), Gui Leal (Ió/Coelho/Corujão) e Carla Vazquez (Can). Ursinho Pooh da Disney –O Novo Musical é uma realização de Dínamo Realizações Artísticas, IMM e EGG Entretenimento, junto da Rockefeller Studios em parceria com Disney Theatrical Group.

Foto: Caio Galucci

 

Nota: As informações e opiniões contidas neste artigo são de inteira responsabilidade de seu/sua autor(a), cujo texto não reflete, necessariamente, a opinião do INFOTEATRO.

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Dib Carneiro Neto

Dib Carneiro Neto

Jornalista, dramaturgo e crítico teatral. Começou a escrever críticas sobre teatro infantil em 1990, na revista Veja São Paulo. Foi editor-chefe do caderno de cultura do jornal O Estado de S. Paulo (2003 a 2011). Atualmente, edita o site e canal do youtube Pecinha É a Vovozinha, que ganhou o Prêmio Governador do Estado em 2018, na categoria Artes para Crianças, além de menção honrosa no Prêmio Cbtij. Por sua peça Salmo 91, ganhou o Prêmio Shell de dramaturgo em 2008. Em 2018, ganhou o Jabuti pelo livro Imaginai! O Teatro de Gabriel Villela.

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