Performance-instalação e livro concebidos pela artista reúnem histórias de quatro mulheres negras de diferentes gerações que trazem à tona a ancestralidade através da subjetividade. Em cena, Tetembua conversa com a sua avó, de 95 anos, sua mãe e sua irmã
As vivências de quatro mulheres negras de diferentes gerações foram retratadas pela performer e fotógrafa Tetembua Dandara no livro fotográfico Eu Tenho uma História que se Parece com a Minha. E esta obra também deu origem a uma performance-instalação homônima que pode ser conferida no Galpão do Sesc Pompeia.
A obra explora diferentes linguagens artísticas e toca questões familiares sensíveis. O trabalho fotográfico reúne vivências entre a artista e sua irmã Mafoane Odara, sua mãe Neuza Poli e sua avó Dirce Poli, resgatando a ancestralidade negra em diferentes tempos.
A instalação é construída em um espaço que remete o público a uma casa aconchegante, como uma casa de avó, com tapetes espalhados pelo espaço, plantas, um sofá e uma cozinha, onde são preparadas comidas das quais o público pode se servir, estabelecendo uma relação de aconchego e carinho. Segundo a artista, os visitantes poderão transitar por esses ambientes o tempo que desejarem. “A proposta é materializar, nesses cômodos, em um tempo espiralado, não linear, o que não cabe em uma foto”, explica Dandara.
Durante toda a apresentação, narrativas são resgatas, compartilhadas e reconstruídas, não só por meio da linguagem verbal, mas também através dos cheiros, da temperatura, das texturas, cores e sons presentes, convidando o público a transitar por essas diversas sensações.
Filha de pais militantes e fundadores do Movimento Negro Unificado, Tetembua Dandara, cujo nome significa “estrela da liberdade” em iorubá, conta que as questões da negritude sempre permearam sua formação artística e política, porém somente há 8 anos ela resolveu trazer essas pautas para a cena.
“Parto de foro muito íntimo que é família, com uma proposta de compartilhar, dentro de uma estrutura cênica. É para assistir, sim, mas você não vai numa festa pra ficar olhando, você vai para compartilhar o tempo e histórias com as pessoas que você quer perto”. “Esta performance, finaliza, é política, e vem da vontade de pensar e discutir a negritude para além dos estereótipos. Somos muito maiores que os lugares que querem nos limitar. Não precisamos contar só histórias de sofrimento, porque não celebrar essas mulheres em vida?”, reflete a artista.
Antes de chegar ao Sesc Pompeia, a performance-instalação foi apresentada na 31ª edição do Festival de Curitiba e no Itaú Cultural. O livro fotográfico, que foi selecionado pelo festival Zum de 2022, do Instituto Moreira Salles, será distribuído gratuitamente para o público nesta curta-temporada.
O projeto foi contemplado pela 2ª edição do Edital de Apoio à Cultura Negra para a cidade de São Paulo, da Secretaria Municipal de Cultura.
Sobre Tetembua Dandara
Tetembua Dandara é performer, fotógrafa e produtora cultural, bacharel em artes cênicas pela Unicamp e especialista em gestão cultural contemporânea pelo Instituto Singularidades e Itaú Cultural. Atua nas áreas do teatro e da dança contemporânea, dedica-se à produção em formatos horizontalizados com coletivos/grupos e parcerias de criação está envolvida nas criações artísticas dos coletivos ciadasatrizes (desde 2008), Cia LCT (desde 2010), Pérfida Iguana (2015) e Grupo do Trecho (desde 2017). Sua colaboração com Grupo MEIO, UltraVioleta_s, Leandro Souza, Grupo Folias D`Arte e Bruta Flor Filmes também ajuda a burlar o sistema e concretizar outros imaginários possíveis.
Ficha Técnica:
Concepção e Performance: Tetembua Dandara
Performance: Dirce Poli, Neuza Poli e Mafoane Odara
Pensamento Visual: Daniela Alves e Renan Marcondes
Fotos: Tetembua Dandara e Mariana Chama
Iluminação: Gabriele Souza
Cenotécnico e Técnico de Cena: Matias Arce
Técnico de Som: Cauê Gouveia
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Produção e Técnica de Cena: Mariana Dias e Tati Mayumi
Coordenação de Produção: Tetembua Dandara.