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Lilia Cabral: de volta aos palcos com a filha Giulia Bertolli em ‘A Lista’

Coluna Por Natália Beukers

As atrizes Lilia Cabral e Giulia Bertolli estão em cartaz, na cidade de São Paulo, com A Lista, texto inédito escrito por Gustavo Pinheiro. A peça se passa no bairro de Copacabana (RJ), onde uma aposentada (Lilia Cabral), por força das circunstâncias envolvendo a pandemia do Coronavírus, se vê obrigada a entrar em contato com sua vizinha, a jovem Amanda (Giulia Bertolli).

É impossível não se reconhecer em diversas ações das personagens – rodeadas pela atmosfera pandêmica – o que acaba divertindo bastante a plateia. No entanto, o tema em questão gera, sobretudo,uma reflexão mais abrangente sobre o momento que vivemos.

A peça continuará em cartaz, no Teatro Renaissance, em São Paulo, até 12 de junho. Posteriormente, irá para o Teatro Vivo, também por aqui. E, para informações de novas temporadas – incluindo outras cidades – sigam o Instagram @a_lista_a_peca. Atualmente, a maioria das produções cria perfis no Instagram de suas respectivas peças. Então, caso tenha curiosidade, pesquise nas redes as peças que queiram assistir!

No mais, na coluna de hoje, eu poderia dar ênfase ao fato de as atrizes serem mãe e filha, mas, quando assisti à montagem, o que vi não foi especificamente a relação familiar sobressaindo em cena, mas duas atrizes igualmente compromissadas com o trabalho. Refletimos sobre essas e outras questões na nossa conversa, confiram a seguir:

Quando conheceram o texto da peça?
Giulia Bertolli
: O autor, Gustavo Pinheiro, me ligou – sempre quisemos trabalhar juntos, mas nunca tínhamos tido oportunidade – falando que tinha a ideia de uma peça, que seria para fazer com duas atrizes, uma mais nova e outra mais velha. Ele queria saber se a gente topava participar, e a gente obviamente topou. Adoramos a ideia! A partir disso, ele desenvolveu o texto e chamamos o diretor Guilherme Piva para dirigir. Tivemos mais ou menos um mês de ensaios online e depois fomos para o presencial. Estreamos online, pela plataforma do Teatro Petra Gold, ainda sem vacina, com todas as medidas de segurança. Depois partimos para apresentações presenciais no Teatro Riachuelo (RJ), depois em Belo Horizonte e em Porto Alegre. Mas estreamos oficialmente em São Paulo, com todos os pormenores definidos da peça, no Teatro Renaissance (SP).

Como foi trabalharem juntas?
Lilia Cabral
: A pandemia proporcionava para nós um certo conforto para o trabalho – a Giulia mora aqui, com a gente. Ter outro ator, atriz para contracenar gera outras possibilidades, então poderíamos trabalhar juntas com mais facilidade. Quando o Gustavo [Pinheiro] pensou em fazermos essa estória, de uma menina de 20 anos e uma mulher de 60 anos, deu super certo, foi conveniente e, ao mesmo tempo, prazeroso. Pois morando juntas, tudo nós discutíamos e pensávamos juntas.

Vocês conversavam sobre a peça a todo momento?
LC: Durante o online tínhamos o período de ensaio para isto, depois até conversávamos algumas coisas, sim. Mas não muito, nunca fomos de ficar batendo nas mesmas teclas.  A não ser quando começamos a ensaiar presencialmente com toda a equipe… aí sim dividíamos mais, pois ensaiávamos, voltávamos para casa com nossas dificuldades e então conversávamos bastante.

Como foi para você, Giulia, trabalhar com sua mãe?
GB: Foi muito bom! Primeiro pela oportunidade de trabalhar com ela – já tínhamos isso em mente, mas não em um futuro tão próximo –, de contracenarmos juntas, de realizarmos esse sonho e por tudo o que aprendi. Sempre aprendi muito com ela no papel de mãe, ou até mesmo como atriz. Mas compartilhar o mesmo texto, ter essa troca e ver como ela trabalha, mais de perto, foi muito bom. Costumo dizer que a conheci mais a fundo na pandemia do que ao longo de muitos anos.

O que vocês aprenderam de mais legal uma com a outra durante o processo?
LC: Não tem uma coisa apenas. Acho que a gente aprende uma com a outra todos os dias. Essa peça, para mim, é um desafio muito grande. Tenho muita responsabilidade com aquilo que estou contando, e, neste caso – apesar da plateia se divertir – meu compromisso é de mostrar ao público que estamos falando de um assunto muito sério, que deve ser reflexivo em todos os momentos. Você não pode se deixar levar pelos aplausos em cena aberta e, muito menos, pelas gargalhadas. Então, quando vejo a Giulia, que é bem mais jovem do que eu, dentro daquele espaço, relaxada, aprendo que é possível ser totalmente compromissada, mas com leveza. Isto porque fico tensa o tempo inteiro, pode parecer que estou leve, livre e solta, mas estou bem nervosa.

GB: Nossa, foi tanta coisa. Mas, acima de tudo, aprendi sobre o domínio que ela tem nos palcos. Ela consegue entender a plateia assim que ela pisa no palco. E o domínio com o texto, o jeito que ela divide as frases para que ninguém do público perca nenhuma palavra. Ela tem esse compromisso com o texto, de dizê-lo da melhor forma possível. E, dentro daquelas mesmas palavras, a cada apresentação, ela consegue se reinventar: encontrar formas novas de entender aqueles mesmos raciocínios, uma forma nova de entender a personagem – sem sair, contudo, do texto. Então este entender a plateia e saber saborear o texto da melhor forma possível, com certeza foi o que mais aprendi. E é o que tento fazer!

Vocês tiveram qualquer tipo de receio em fazer este projeto juntas?
LC: Não… primeiro que o texto não apresenta uma relação entre mãe e filha, então as personagens e a relação delas, é diferente da nossa, distantes das nossas realidades. Nunca passou em nossas cabeças: “Ah, mãe e filha…”. Se não tivéssemos uma qualidade dramatúrgica neste projeto, talvez a gente ficasse fazendo questionamentos. Mas quando se tem uma boa estória, é o tal negócio: você vai para onde você quiser.

GB: O nosso objetivo é que o público vá assistir duas atrizes em cena que, por acaso, são mãe e filha.

LC: Por exemplo, nos ensaios. Nunca questionamos nossas vidas de mãe e filha durante o trabalho. A gente não carregou isso para a cena. Além disso, estávamos rodeadas de grandes profissionais, que também sempre nos olharam como duas profissionais. Pois se você tem um diretor que fica estimulando este lugar de ser mãe e filha, você acaba entrando em um lugar que não quer, e, muitas vezes, sem querer. O [Guilherme] Piva exigia da Giulia o mesmo que exigia de mim, para darmos sempre o nosso melhor.

GB: Pensa, você está indo trabalhar, em um ambiente de trabalho, você não está lá para reviver tudo que viveu em casa. Você está lá para viver um personagem que, muitas vezes, é diferente de você. Quando o ator traz suas vivências à tona, em alguns casos pode até funcionar, mas na maior parte das vezes é ruim, não vai funcionar sempre. É necessário entender o que o texto precisa para ser transmitido ao público e como o ator, portanto, chegará neste lugar.

Como está sendo a temporada até aqui?
LC: Estamos tendo a casa lotada todos os finais de semana. É uma mistura de realização com um toque de: “Será que isto está acontecendo mesmo?”. Sinto que, neste momento, o teatro, em geral, está em ebulição. Em São Paulo, por exemplo, está havendo diversos espetáculos, e todos indo muito bem. Meus amigos estão em cartaz agora, outros encerrando temporadas, alguns outros iniciando novas… isso está sendo uma luz. Porque, nesta profissão, não adianta você brilhar sozinho.

GB: A gente sempre torce para que seja uma boa temporada, mas essa está superando qualquer expectativa! Estamos muito felizes. A recepção do público está maravilhosa. Muitas pessoas nos escrevem, pelas redes sociais, dizendo que se emocionaram, que se divertiram… não tem coisa melhor.

LC: Afinal, vivemos dois anos de muitas incertezas. Mas todos os artistas foram persistentes e determinados. Todos nós, profissionais da arte, fomos responsáveis por não deixar essa chama apagar. Nós não ficamos quietos, não nos silenciamos. E, acima de tudo, o público foi mostrando o quanto estava sentindo falta do teatro. Isto é o mais importante.

A ListaTeatro Renaissance – Alameda Santos, 2233 – Jardim Paulista, São Paulo – SP.

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Vogue Brasil.

 

Este texto foi, originalmente, publicado no site da revista Vogue Brasil, dentro do segmento ‘Gente’. Para acessar a publicação original, clique aqui.

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Sobre
Natália Beukers

Natália Beukers

Atriz, criadora do Infoteatro e colaboradora de Cultura da Vogue Brasil, tendo escrito mais de 50 textos até então. Formada em Direito pela PUC-SP (2020), começou a estudar teatro aos 10 anos de idade, formando-se como atriz em 2017. Estudou, de 2017 a 2021, com os atores do Grupo TAPA, participando de três espetáculos do grupo: “Anatol”, “O Jardim das Cerejeiras” e “Um Chá das Cinco”. Foi assistente de produção em mais de 10 temporadas da companhia. A partir da criação do Infoteatro, em abril de 2020, entrevistou mais de 100 profissionais da área teatral.

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