Cia. Arthur-Arnaldo estreia montagem de AGAMEMNON Voltei do supermercado e dei uma surra no meu filho
Consumo, descarte, abundância, miséria, descontrole climático e relações desumanizadas. Estas e outras questões estão presentes na montagem do texto do dramaturgo argentino Rodrigo García, dirigida por Soledad Yunge, que também assina a tradução.
Existe esperança num mundo onde a abundância se tornou nossa sentença de morte? É essa a reflexão que norteia o provocativo AGAMEMNON Voltei do supermercado e dei uma surra no meu filho (2004), do dramaturgo argentino radicado na Espanha Rodrigo García. A peça ganha uma nova montagem brasileira, desta vez idealizada pela Cia Arthur-Arnaldo.
Na trama, um homem volta frustrado do supermercado, dá uma surra na sua família e resolve levá-la para jantar fora. No cardápio, asinhas de frango frito dividem espaço com doses de tragédia e esperança.
Ele precisa lidar com um problema que parece estranho a uma sociedade com tantas opções de serviços, produtos e marcas: essa abundância, na verdade, gera descarte, miséria, descontrole climático e relações desumanizadas.
“Ele surta porque se vê aprisionado num sistema do qual não consegue sair”, afirma a diretora Soledad Yunge, que também assina a tradução do texto. Esse homem está imerso na permacrisis, termo utilizado para descrever um estado prolongado (ou permanente) de insegurança e instabilidade. Inclusive, esta foi escolhida a palavra do ano de 2022 pelo dicionário Collins. Em cena, o núcleo artístico do grupo: Carú Lima, Júlia Novaes e Tuna Serzedello.
Uma sociedade de excessos
Para a Cia. Arthur-Arnaldo, o excesso de resíduos é a melhor maneira de representar visualmente essa sociedade adoecida, centrada no consumo. Por isso, o cenário concebido por Julia Reis e Lucas Bueno (estúdio lava) é todo composto por material reciclável. Uma das inspirações é o coletivo espanhol Basurama, que se dedica à investigação, criação e produção cultural/ ambiental a partir de elementos descartáveis.
Esse pensamento também estimulou as criações do figurinista Rogério Romualdo que propõe várias camadas de vestimentas, transmitindo para a plateia a ideia de acúmulo.
“O texto fala sobre um sistema de consumo e acumulação, e quisemos focar na questão do descarte como resultado desse sistema. Até porque, é um ciclo que não tem fim: quanto mais se consome, mais se descarta, a ponto de vermos absurdos, como as montanhas de roupas jogadas no Deserto do Atacama, o oceano de plástico e as constantes tragédias ”, comenta Soledad Yunge.
Em termos de linguagem, a montagem de AGAMEMNON Voltei do supermercado e dei uma surra no meu filho da Cia. Arthur-Arnaldo opta por um trabalho a partir da linguagem do bufão e uma diversidade de procedimentos de movimento.
“Rodrigo García é um artista que transita na linguagem da performance, mas esse não é o território de pesquisa da companhia. Para mim, este espetáculo está dividido em três partes: no começo, o elenco é quase como um mesmo corpo. Estamos trabalhando a linguagem do bufão somada a preparação corporal de Ana Paula Lopez. Em um segundo momento, o foco é a cumplicidade da relação dos intérpretes com a plateia. Por fim, a cena ganha outro tom, que joga com estereótipos de maneira mais precisa e coreografada”, detalha a diretora.
Um teatro jovem e combativo
Reconhecida por se dedicar ao teatro jovem, a Cia Arthur-Arnaldo decidiu enfrentar um desafio maior em AGAMEMNON Voltei do supermercado e dei uma surra no meu filho: continuar a pesquisa sobre o assunto pensando no que faz do teatro um tema de interesse para jovens.
No começo do processo, o coletivo se reuniu com jovens. “No encontro, disseram que uma peça jovem tem crítica social, sede de mover uma estrutura para transformar o mundo, fala do presente para refletir sobre o futuro, não trabalha com estereótipos da juventude e trata de questões ambientais. E ainda arremataram: as gerações mais velhas nos deixaram um mundo destruído para viver”, conta Tuna Serzedello.
Para o grupo, o texto de Rodrigo García reúne todos esses elementos. De acordo com Soledad, o autor provoca e mobiliza nossa mente e sentidos vertiginosamente, para nos acordar de um estado “corpo-máquina”.
A estreia dessa montagem é uma das ações previstas no projeto “Cia. Arthur-Arnaldo em obras – Jovens Inspirando”, contemplado pela 39ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo.
FICHA TÉCNICA:
Direção do espetáculo: Soledad Yunge
Preparação corporal: Ana Paula Lopez
Elenco: Carú Lima, Júlia Novaes e Tuna Serzedello
Texto: Rodrigo García
Tradução: Soledad Yunge
Iluminação: Junior Docini
Músicas originais: Muepetmo
Cenário: Julia Reis e Lucas Bueno (estúdio lava)
Figurinos: Rogério Romualdo
Programação visual: Tuna Serzedello
Direção de produção: Soledad Yunge
Assistente de produção: Carú Lima
Realização: Cia. Arthur- Arnaldo da Cooperativa Paulista de Teatro
Assessoria de Imprensa: Canal Aberto Comunicação | Márcia Marques