NINO PORCUPINO

Você daria o seu anel de casamento para um golfinho faminto? E se um cavaleiro pulasse por cima da sua cabeça enquanto você colhe prímulas inocentemente? É nesse tom de deboche farsesco que ÁGUA FRESCA, a única peça teatral da célebre modernista Virginia Woolf, invade os palcos brasileiros. Nesta sátira sem filtros, onde arbustos de framboesa e cabeças de burro se misturam a ícones vitorianos como Julia e Charles Cameron, Alfred Tennyson e Ellen Terry, Woolf desconstrói a pompa da elite britânica com diálogos ágeis e situações dignas de um teatro do absurdo. A peça usa o riso como arma para questionar hierarquias, convenções e absurdos sociais que ainda ecoam no Brasil de hoje.

A história acompanha José, um jovem seminarista à beira de sua ordenação como padre, que recebe de Frei Ambrósio, seu orientador espiritual, uma última tarefa: confessar-se de forma completa e sem reservas. Essa confissão se torna um mergulho em memórias marcantes, incluindo o relacionamento que José viveu com Filipe, seu colega no seminário. Durante esse processo, a peça explora episódios que abordam questões relacionadas a vínculos afetivos, limites pessoais e as escolhas que definem trajetórias.

A peça mescla trechos do livro do filósofo com relatos autobiográficos dos 7 intérpretes das mais variadas identidades, já como uma provocação e um desafio para estabelecer não apenas os entraves, mas os pontos de conexão entre a comunidade LGBTQIAPN+. Em cena artistas bixas, lésbicas, trans/travestis e não-binários tentam “contar” o livro de Paco ao mesmo tempo que “se contam”, em cenas estabelecidas como tomadas.