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3 peças para assistir nas próximas semanas

Coluna Por Natália Beukers

Não há nada melhor do que assistir a uma boa peça teatral, na minha opinião. A força do teatro, quando nos deparamos com obras bem realizadas, é irreversível! Foi isso que senti ao assistir à Sueño, de Newton Moreno, há algumas semanas. A começar pelo palco, construído no jardim do Teatro João Caetano, a céu aberto – realmente, uma experiência única.

Por conta deste sentimento, pensei ser imprescindível falar desta peça por aqui. Para quem ainda não voltou ao teatro, está aí uma sugestão inesquecível! E, para falar melhor sobre o projeto, entrevistei o ator José Roberto Jardim, que interpreta a personagem Vine.

Além disso, conversei com a grande atriz e diretora Georgette Fadel, sobre sua direção em As Mulheres dos Cabelos Prateados. Eu ainda não tive a oportunidade de assistir ao espetáculo, mas já é o próximo da lista – quem sabe não nos encontramos por lá?

E, para aqueles que ainda não se sentem confortáveis para voltar ao presencial, falei com o renomado diretor e ator Mário Bortolotto, sobre sua direção online do texto O Homem que Matou Liberty Valance. Confira as conversas a seguir:

Sueño

Para aqueles que ainda não foram, por que assistir a Sueño?
José Roberto Jardim (ator na peça Sueño): Aquela pergunta de 1 milhão de dólares sempre! Primeiro, para se ter uma experiência. Para sair da inércia que é a vida e, pelo menos, de alguma maneira, começar a chacoalhar simbolicamente a cabeça. Em segundo lugar, porque essa peça é o grito de várias pessoas que estão ligadas ao teatro, comprometidas a ele. É o depoimento de um momento em que o teatro ficou soterrado – mesmo que há anos esteja assim, mas, agora, “pandemicamente” passamos por isso.

Todos os espetáculos que estão conseguindo voltar em cartaz são como massagens cardíacas nesse teatro que volta a ter sinais vitais. E, em terceiro lugar, em nossa estória, Newton Moreno, autor e diretor da peça, faz um intercruzamento com Sonho de Uma Noite de Verão, texto de William Shakespeare, que, curiosamente, foi o espetáculo que escreveu pós-pandemia, em Londres, para celebrar a volta do teatro… e Newton pegou esse texto e intercruzou com a ditadura chilena, para falarmos sobre fascismo, autoritarismo, sobre onde estamos chegando nesses tempos.

Comecei a trabalhar em Sueño porque era minha cápsula de sobrevivência: “Quero estar com Denise [Weinberg], que já trabalhei várias vezes, com Leo [Leonardo Pacheco], que para mim é uma grande referência, Newton Moreno também, Paulinho [Paulo de Pontes], Simone [Evaristo], Michelle [Boesche]. Porque, no começo, pensava: “Não vai dar certo este espetáculo, sete semanas só de ensaio, a gente em frangalhos, esse país em frangalhos…”. Mas aí pensei: “O que é dar certo?”. Dar certo, para mim, foi me manter vivo!

A gente tem que começar a pensar de maneira mais essencial, verdadeiramente: “O que isso representa para mim?”. E representava estar com eles lá, todos os dias. Sei por que estou indo ao teatro, para, exatamente, não sucumbir, e para entender que ainda existe algum tipo de beleza – apesar desse mundo, apesar do que estamos passando…

Cena de As Mulheres dos Cabelos Prateados (Foto: Divulgação)

As Mulheres dos Cabelos Prateados

De que se trata As Mulheres dos Cabelos Prateados?
Georgette Fadel (diretora da peça As Mulheres dos Cabelos Prateados): É um velho tema: a época da ditadura e todas as injustiças cometidas. Trata-se de mulheres que não eram diretamente envolvidas com a luta armada, ou com o partido comunista, mas que foram tocadas, violadas pela ditadura. Mas tenho a impressão de que, já que é um tema muito recorrente, isso é sempre abordado de uma certa forma.

A novidade, neste caso, é que na dramaturgia da autora, Ave Terrena, as narradoras são extraterrestres, habitantes do planeta Zurk. Então existe uma brincadeira, mas que não faz toda a questão ficar menos pesada, apenas a apresenta de um ponto de vista irônico – como se seres de outro planeta tivessem vindo julgar se nós merecemos uma outra chance. A humanidade tem jeito?

A peça foi levantada em dez ensaios, aproximadamente, é uma peça de transição – me parece que as obras estreadas em novembro de 2021 são obras de transição, têm características diferentes. A peça está sendo apresentada em um espaço complexo como a Vila Itororó. Em premissa já é um cenário, totalmente específico. Um cenário fortíssimo, mais forte do que qualquer coisa que se possa fazer nele. Tem uma presença do passado ali, e isso fortalece a peça, pois tem tudo a ver com as histórias que estão sendo contadas. São ruínas, tem colunas de um antigo teatro… é um espetáculo que traz à luz histórias que não podem ser esquecidas enquanto a justiça não for feita.

É um pedido por justiça, por lembrança, por reparações. Reconhecer que aquilo aconteceu para que não aconteça mais, ainda mais neste momento… estamos em um momento em que se essas coisas não forem levantadas com firmeza ética, de forma definitiva, isso tudo poderá retornar de uma maneira legitimada, explícita, à luz do dia, com ares de justiça.

Cena de O homem que Matou Liberty Valance (Foto: Cri Jatobá / Divulgação)

O Homem que Matou Liberty Valance

De que se trata O Homem que Matou Liberty Valance?
Mário Bortolotto (diretor da peça O Homem que Matou Liberty Valance): O espetáculo, na verdade, é a adaptação de um conto da década de 1950, que foi transformado em peça de teatro. Trata-se de um estudante de direito, Ransome Foster, que vai parar em em Twotrees, uma cidade pequena. Isto porque, rumo ao oeste, em busca de uma vida nova, ele é espancado por bandidos.

E então um cowboy, Hallie Jackson, o salva e o leva ao saloon de Hallie Jackson. Hallie cuida do estudante, o que faz com que ele se apaixone por ela. É um faroeste! O conto também foi adaptado para o cinema, em 1962, direção de John Ford. E o autor do texto, Jethro Compton, é um garoto jovem, deve estar com 33 anos agora. Na época em que escreveu era ainda mais jovem…

É o primeiro trabalho da atriz Bianca Bin no teatro. Tem sido ótimo trabalhar com ela e é surpreendente pelo fato dela nunca ter feito teatro antes na vida. Ela tem um domínio muito bacana. Também é a estreia de Helô Lucas, que, na verdade, não é atriz, é cantora – cantora da noite, de jazz. Já Guizé [Sérgio], tem experiência, já veio do teatro. Trabalhamos muito tempo juntos. E Eldo Mendes e Walter Figueiredo são atores que também já estão acostumados a trabalhar comigo.

Sou fã de faroestes desde criança e não poderia perder a oportunidade de montar um espetáculo de teatro que é um western. É uma maneira de homenagear meus heróis de infância.

Outros trechos das entrevistas estão disponíveis no perfil do INFOTEATRO no Instagram (@infoteatro_). Foram ditas coisas interessantíssimas sobre o momento atual do nosso teatro.

Não percam!

Sueño
Teatro Municipal João Caetano
Rua Borges Lagoa, 650 – Vila Clementino – São Paulo.
De terça a domingo às 18 horas – até 05 de dezembro.

As Mulheres dos Cabelos Prateados
Centro Cultural Vila Itororó – Rua Maestro Cardim, 60, Bela Vista, São Paulo/ SP
De sexta a domingo, às 19h – até 4 de dezembro.

O Homem que Matou Liberty Valance
Teatro Sérgio Cardoso Digital
De quinta a domingo, às 21h. De 2 a 19 de dezembro.
https://site.bileto.sympla.com.br/teatrosergiocardoso/

 

Este texto foi, originalmente, publicado no site da revista Vogue Brasil, dentro do segmento ‘Gente’. Para acessar a publicação original, clique aqui.

 

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Sobre
Natália Beukers

Natália Beukers

Atriz, criadora do Infoteatro e colaboradora de Cultura da Vogue Brasil, tendo escrito mais de 50 textos até então. Formada em Direito pela PUC-SP (2020), começou a estudar teatro aos 10 anos de idade, formando-se como atriz em 2017. Estudou, de 2017 a 2021, com os atores do Grupo TAPA, participando de três espetáculos do grupo: “Anatol”, “O Jardim das Cerejeiras” e “Um Chá das Cinco”. Foi assistente de produção em mais de 10 temporadas da companhia. A partir da criação do Infoteatro, em abril de 2020, entrevistou mais de 100 profissionais da área teatral.

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