Itaú Cultural estreia Dolores – minha composição, que põe foco na vida e obra de Dolores Duran
Uma das compositoras brasileiras mais gravadas de todos os tempos terá vida e obra transposta ao palco por Rosana Maris, com direção de Luiz Fernando Marques (Lubi), direção musical de Fernanda Maia e preparação de atriz por Denise Weinberg
Dolores Duran, parceira de grandes nomes da MPB – como Tom Jobim, Chico Anysio, Carlos Lyra e Billy Blanco, entre outros – morreu muito jovem aos 29 anos, mas é uma das cantora mais regravadas até hoje no Brasil
Uma mulher poderosa, à frente do seu tempo, uma artista fugaz, que produziu muito, morreu jovem e não teve o merecido reconhecimento. Esse ícone da Música Popular Brasileira é o centro de Dolores – Minha Composição, espetáculo que estreia no Itaú Cultural em 23 de março de 2023. Rosana Maris dará vida à artista, no espetáculo que fica em cartaz gratuitamente até 16 de abril, de quinta a sábado, às 20h e domingos e feriados às 19h.
Com concepção, dramaturgia e atuação de Rosana Maris, direção e cenografia de Luiz Fernando Marques (Lubi), direção musical de Fernanda Maia e preparação da atriz de Denise Weinberg, o espetáculo apresenta planos de realidade que se entrecruzam para compor uma trama, em que seja possível fazer dialogar, ficção e realidade, passado e presente.
Dolores Duran viveu seu auge nas décadas de 1940 e 1950, produzindo dezenas de significativas composições, mesmo convivendo em um universo masculino, branco, preconceituoso e extremamente conservador e conseguindo ser uma mulher independente sendo negra, artista e pobre.
A concepção e dramaturgia é da Rosana, na busca de resgatar e dar mais luz à trajetória da artista carioca. “Eu creio que a Dolores se comunica demais com as plateias de hoje, com tudo que ela representava lá nos anos 1940/50, por ela ser essa pessoa que estava muito à frente da época. Além disso, vamos fazer no espetáculo uma homenagem para a maior compositora do país”, explica ela.
E o encontro com o Lubi só fez potencializar a história, já que o diretor também tinha planejado, anos atrás, fazer uma criação teatral sobre Dolores. “Ela foi a primeira artista que eu pesquisei com um olhar para tentar fazer uma montagem, por ela ser esse primeiro eu lírico feminino na música brasileira, com um volume de produção, e nessa perspectiva da intimidade do feminino eu acho que Dolores é icônica”, lembra o diretor.
Dolores – Minha Composição contempla tanto a vida dela, sua história quanto seu relacionamento com grandes figuras da música brasileira como Maysa, Tom Jobim e Vinicius de Moraes. “Eu brinco como atriz na peça – uma atriz que conta para o público que teve um sonho com Dolores e a partir daí ela quer brincar com o sonho de ser Dolores Duran”, conta Rosana.
A dramaturgia parte desse princípio: de uma atriz tentando ser essa monstra da música. “E a partir disso o que que se assemelha com a gente, quais são os lugares que se conectam comigo, quando você fala isso eu penso igual, essas instâncias. Quando você olha para um ídolo e parece que é uma continuação de pensamento, de vida e de história. Eu acho essa mulher extraordinária e todo mundo precisa conhecer Dolores Duran”, completa.
Para traduzir o universo da Dolores, a dramaturgia utilizou pontos da biografia da artista – uma mulher negra, que mesmo passando boa parte da vida artística solteira, conseguiu exercer e ocupar os lugares que ela ocupou. “Do ponto de vista da obra artística, é interessante porque de uma maneira geral é senso comum você colocá-la naquele lugar do samba-canção, da fossa. Mas se hoje olharmos com esses olhos da solidão da mulher negra, do patriarcado, do machismo estrutural, você começa a enxergar essas letras também como um protesto, como um grito ou de socorro, ou de alerta, ou de denúncia às vezes mesmo”, conta Lubi. “É interessante você pensar que ela é bossa nova, antes da bossa ser nova, ela já aponta na composição dela fundamentos e dinâmicas artísticas que depois foram se consolidar. E poucas vezes dão esse mérito para ela”, complementa o diretor.
Show espetáculo
A ação se passa em três ambientes diferentes: em um bar, em um show e na casa da artista. Em cena, a atriz (Rosana), a cantautora (Dolores) e a plateia têm um encontro para eclodir questões que dizem respeito ao amor, sonhos, a solidão nas grandes cidades, a opressão sofrida pelas mulheres, os entraves e preconceitos contra as mulheres livres, as questões ligadas à construção de identidade racial etc. Rosana interpreta canções compostas por Dolores ao vivo, acompanhada de um trio de músicos – Marcelo Farias, Pedro Macedo e Rodrigo Sanches.
O eixo principal é a biografia de Dolores, colocando em cena histórias emblemáticas que fizeram parte de sua vida, como as que cercam as canções compostas e interpretadas por ela, tudo acompanhado pelos músicos, seus grandes sucessos e parcerias. Além das canções mais conhecidas, como “A Noite do Meu Bem” e “Fim de Caso”, há outras importantes na trajetória de Dolores, que falavam dos seus amores, da sua carreira, da sua vida e dos momentos importantes pelos quais passou.
O espetáculo parte do desenvolvimento de linhas temáticas distintas, planos de realidade que se entrecruzam para compor uma trama, em que seja possível fazer dialogar, ficção e realidade, passado e presente, tendo como eixo principal a vida de Dolores.
Dolores Duran – Vivendo sem concessões
Nos anos 1950, uma artista negra, de origem humilde, que viveu a vida como quis, subvertendo padrões, revolucionou a música brasileira, com dezenas de canções que provocam até hoje sentimentos fortes que vão de saudades e espera à solidão e ternura, sempre carregando em seus versos amor e dor.
Adiléia da Silva Rocha, nasceu na periferia do Rio de Janeiro em 1930, filha de um sargento da Marinha (que faleceu quando ela tinha apenas 12 anos). O primeiro prêmio foi aos 10 anos de idade, no Programa de Ary Barroso, “Calouros em Desfile”. Aos 16 anos, adotou o nome artístico. Autodidata, cantou músicas em inglês, francês, italiano e espanhol – a versão dela para o clássico estadunidense “My Funny Valentine” ganhou elogios da compositora da canção, Ella Fitzgerald.
A estreia de Dolores em disco foi em 1952, gravando dois sambas para o Carnaval. Três anos depois casou-se com o radioator e músico Macedo Neto (1955) e foi vítima de um infarto e, ao não seguir as recomendações médicas, teve complicações de saúde.
Foi uma das únicas parceiras mulheres a compor com Tom Jobim – “Estrada do Sol”, “Se é Por Falta de Adeus” e “Por Causa de Você”. Compositora e letrista, até hoje faz sucesso com canções como “A Noite do Meu Bem”, “Castigo”, “Fim de Caso” e “Solidão”. Mas também teve outros parceiros musicais, como Chico Anysio (“Prece de Vitalina”), Carlos Lyra (“Se Quiseres Chorar”, “O Negócio É Amar”) e Billy Blanco (“Céu Particular”).
Morreu em 23 de outubro de 1959, com 29 anos, de ataque cardíaco.
Rosana Maris vivendo a compositora Dolores Duran
Quem dá vida à Dolores Duran é a atriz, produtora cultural, dubladora e locutora Rosana Maris. Começou a trabalhar como atriz em 2003 e desde então fez dez produções teatrais, trabalhando, principalmente, com os diretores Ewerton de Castro, Flavia Pucci, Gabriela Rabelo, Enio Gonçalves, Barbara Bruno, Lauro Cesar Muniz, Inês Aranha, entre outros. Como produtora cultural participou de mais de 12 produções teatrais, trabalhando com importantes grupos de SP e também em parceria com o Instituto Cultural Capobianco.
Em 2017, começou a trabalhar como atriz no audiovisual e nesse setor já fez mais de 13 trabalhos, entre os mais recentes se destacam a personagem Jussara na série “Sintonia”, que está prestes a estrear a 4ª temporada, também esteve na série “Cidade Invisível’, de Carlos Saldanha, “Mal Me Quer”, de Ian SBF; em “Hard”, direção de Rodrigo Meirelles. Nos longa-metragens esteve em “Dez horas para o Natal”, de Cris D’Amato; “Dois mais Dois”, roteiro e direção de Marcelo Saback; “O Papai é Pop”, direção de Caíto Ortiz; “O Santo Maldito”, direção de Gustavo Bonafé e “Pedágio”, da Biônica Filmes, com direção de Carolina Marckovicz.
Ficha Técnica:
Concepção e Dramaturgia – Rosana Maris
Direção e Cenografia: Luiz Fernando Marques (Lubi)
Direção Musical – Fernanda Maia
Atriz – Rosana Maris
Preparação da Atriz – Denise Weinberg
Figurinos – Yakini Rodrigues
Preparação Vocal – Gilberto Chaves
Orientação Corporal – Janette Santiago
Músicos – Marcelo Farias, Pedro Macedo, Rodrigo Sanches
Lighting Design – Wagner Pinto
Assistência de Direção – Gabi Costa
Design de Som – João Baracho
Voz em off – Rodrigo Mercadante
Visagismo (Cabelo e Maquiagem) – Dicko Lorenzo
Design Gráfico – Fabio Viana
Direção de Produção – Daniel Palmeira
Produção/Idealização – Bem Te Vi Produções Artísticas
Reservas de ingressos na semana anterior às sessões através plataforma INTI – acesso pelo site do Itaú
Essa temporada contará com acessibilidade em libras em todas as sessões.
Texto disponibilizado pela produção do espetáculo.