INFÂNCIA, DE GRACILIANO RAMOS, FAZ TEMPORADA NA SP ESCOLA DE TEATRO.
Depois de se apresentar em cidades de Minas Gerais, pelo sertão e Zona da Mata de Pernambuco e Alagoas, em Maceió, Aracaju e Salvador, no Teatro Municipal de São Paulo e em munícipios do Paraná, o grupo rodateatro mostrou sua versão cênica musical e literária da obra prima de Graciliano Ramos na Biblioteca Mário de Andrade, em quatro apresentações, no verão de 2022 para 2023. De março a abril do corrente ano o projeto estará em temporada na SP Escola de Teatro, no Centro da Capital Paulista, além de sessões para a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e unidades do SESC/SP.
OBRA
Infância é a transcrição cênica e musical a partir do livro homônimo de Graciliano Ramos, publicado em 1945. Nestas memórias, o alagoano traz à tona seus primeiros anos de vida até o despertar da puberdade vividos no interior dos Estados de Alagoas e Pernambuco. Em meio à dura vivência com a família e marcado por uma difícil alfabetização, surge página a página uma criatura interessada nos vários personagens à sua volta e no mundo das letras. Meninice que não inspira nostalgia e que tem estreita relação com obra do escritor como um todo e tudo aquilo que ela denuncia, criando uma movimentação entre as vozes da criança e a daquele que a rememora. Esse jogo literário que acumula temporalidades (as diferentes idades do menino e a perspectiva do adulto) é explorado na adaptação à cena que, ao priorizar a falta de trato familiar, a precariedade do ambiente escolar e as dificuldades sofridas pelo garoto no letramento, cria um contraste epifânico, uma vez que aquele que passa a vislumbrar novas paisagens a partir da aproximação aos livros se tornará (ao mesmo tempo que já é) um de nossos maiores escritores.
PESQUISA
Em dezembro de 2021, Ney Piacentini (ator que também pertence a Companhia do Latão de São Paulo) e Alexandre Rosa (músico da Osesp [Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo] principal conjunto sinfônico da América Latina), foram até o sertão de Pernambuco e Alagoas, em busca dos espaços onde se dão os episódios de Infância e de seu mundo sensorial. Passaram por Quebrangulo, Viçosa, Palmeira dos Índios (AL) e Buíque (PE). Lá conheceram a aridez e a pulsação da gente do sertão e da Zona da Mata nordestinos. Visitaram as ruas citadas no livro, as casas em que Graciliano viveu, e puderam conviver e conversar com os “viventes” locais. Além dessa viagem de imersão e da leitura das obras completas do autor, a pesquisa contou ainda com quatro palestras proferidas por especialistas como Ieda Lebensztayn, Ivan Marques, Leusa Araujo e Luciana Araujo Marques.
ENCENAÇÃO
Conhecido por seu estilo “seco”, nosso autor se utiliza apenas das palavras e frases essenciais, e a encenação segue na mesma direção. A montagem é simples, porém inventiva: a cenografia é feita de objetos imprescindíveis ao palco, com sofisticados instrumentos musicais que se transformam, por meio de sugestões indiretas, na indumentária do projeto. O trabalho está planejado de modo a facilitar a adaptação às condições materiais dos espaços e não o contrário. E o programa engloba a encenação (de 60 minutos), seguida de uma conversa sobre o universo de Graciliano Ramos. Entram em debate os conteúdos, as formas, as demais obras do autor, sua inserção no panorama da história e literatura brasileiras, além de outros aspectos de interesse da plateia. Haverá ainda a apresentação do processo de construção do espetáculo, especulando sobre como Ney Piacentini (ator) e Alexandre Rosa (músico) deram vida cênica ao Infância. Trazer ao palco um dos livros mais importantes de Graciliano Ramos tem a intenção de estimular a leitura e a formação de público na conjugação entre literatura, teatro e música.
NEY PIACENTINI
O ator possui 43 anos de teatro e interpretou mais de 65 espetáculos em sua trajetória. Tem Pós-Doutorado no Instituto de Artes da UNESP, com o projeto Anotações sobre a história da atuação no Brasil. Foi professor temporário por três anos na Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP) na disciplina Poéticas da Atuação II e atuou como orientador na Pós-Graduação de Direção e Atuação na Célia Helena Centro de Artes e Educação. Trabalhou como professor substituto no Instituto de Artes da UNESP na disciplina Laboratório de Atuação e de Processos da Performance V e VI e exerceu a função de professor de Direção de Atores na Pós-Graduação em Direção Teatral na Faculdade Paulista de Artes. Possui doutorado e mestrado em Pedagogia Teatral pela ECA/USP. Publicou os livros (DES)APRENDIZAGENS – TEXTOS SOBRE ATUAÇÃO; O ATOR DIALÉTICO: VINTE ANOS DE APRENDIZADO NA COMPANHIA DO LATÃO (fruto do doutorado); EUGÊNIO KUSNET: DO ATOR AO PROFESSOR (fruto do seu mestrado) e STANISLAVSKI REVIVIDO (Org. com Paulo Fávari). É integrante da Companhia do Latão desde a sua fundação em 1997. Em 2016 foi Indicado ao Prêmio de Melhor Ator pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) por seu solo ESPELHOS e estreou INFÂNCIA em 2021. Em 2018 foi indicado ao Prêmio Aplauso Brasil pelo seu livro O ATOR DIALÉTICO – Categoria Destaque e ao Prêmio Botequim Cultural – RJ como Melhor Ator Coadjuvante por LUGAR NENHUM da Companhia do Latão. Fez parte do conjunto que venceu o Prêmio Questão de Crítica – RJ 2013 de melhor elenco com O PATRÃO CORDIAL e o de melhor espetáculo estrangeiro em Cuba em 2007 com O CÍRCULO DE GIZ CAUCASIANO, de Bertolt Brecht. É ator, professor de teatro e autor de livros sobre atuação. Em 2014 recebeu o Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro pela sua contribuição ao Teatro Paulista. Criador, ao lado de Alexandre Rosa, do núcleo RODATEATRO, que está apresentando INFÂNCIA, de Graciliano Ramos
ALEXANDRE ROSA
Alexandre é Doutor em música-performance pelo Instituto de Artes da UNESP onde também realizou seu mestrado. Sua graduação em música-instrumento foi pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Foi primeiro contrabaixo solista da Orquestra Sinfônica de Santo André e membro da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo. Fundador e diretor artístico da Orquestra de câmara Engenho Barroco, tendo atuado com esta e em grupos de câmara com música barroca e contemporânea. Suas pesquisas sobre técnicas estendidas resultaram no CD BASS XXI (2013) e na publicação, pela Editora UNESP do livro Técnicas Estendidas do Contrabaixo no Brasil- Revisão de Literatura, Performance e Ensino (2014). Como professor de contrabaixo no Instituto Baccarelli, 2007 a 2017, pode fazer a aplicação destas técnicas na iniciação ao instrumento. Atualmente é musico da OSESP, orquestra com a qual tocou em salas de música como o Carnegie Hall e Lincoln Center (Nova York), Royal Albert Hall (Londres), Concertgebouw (Amsterdã), Chatelet e Pleyel (Paris) Philarmonie (Berlin), Palau da Música (Barcelona), Colon (Buenos Aires), National Center for Performing Arts (Pequim) entre outras. No teatro participou de oficinas com Jean-Jacques Lemetre e Viviane Dado-Sortie (França); Julia Varley (Dinamarca) e Kalamandalam Shivadass (India). Esteve na Odin Week em Holstebro (DNK) onde participou de oficinas com atores e músicos do Odin Teatret e também com o diretor do grupo, Eugenio Barba. Tem ministrado palestras e workshops para músicos e atores em instituições conceituadas como os Festivais de Música de Campos do Jordão e Juiz de Fora além das Escolas de Teatro da ECA-USP, IA-UNESP e National School of Drama (NSD) da India. Já atuou ao lado de Antonio Fagundes e Cacá Carvalho em ‘A Historia do Soldado’; ‘Contrabass in Concert’ com atuação e direção de Sérgio Mamberti.
FICHA TÉCNICA:
Autor: Graciliano Ramos
Idealização e adaptação: Ney Piacentini
Concepção e direção: Ney Piacentini e Alexandre Rosa
Interpretação: Ney Piacentini (atuação) e Alexandre Rosa (músico)
Assistente de direção e iluminação: Elis Martins
Fotos e vídeos: João Maria Silva Jr.
Programação visual: Paulo Fávari.
Produção: Gisela Reimann
Debatedores: Lucina Araujo Marques e Ricardo Ramos Filho