O BAILADO DO DEUS MORTO VOLTA AO TEATRO OFICINA, EM CURTA TEMPORADA
O Bailado do Deus Morto, de Flávio de Carvalho, com direção de Marcelo Drummond, volta ao Teatro Oficina durante o mês de março. A dramaturgia foi escrita em 1933 para a inauguração do Teatro da Experiência, projeto idealizado por Flávio: um espaço para prática e apresentações no qual o teatro fosse encarado de fato como experiência – cênica, arquitetônica, humana e dramatúrgica. Com isso, Flávio pretendia impulsionar o teatro feito em São Paulo e no Brasil a outras, mais ousadas, aventuras estéticas. O “laboratório de pesquisas teatrais”, duramente perseguido pela censura de então, teve vida curta e Flávio não pôde realizar seu projeto.
A obra se dá “numa escala de alguns milhões de anos” e quer provocar reflexão, e alguma turbulência, sobre a relação da espécie humana com a ideia de Deus, em uma dança-cântico com movimentos descritos em detalhe nas rubricas do autor.
“A peça, uma obra filosófica, e sob o ponto de vista do teatro, obra experimental que procurava novos moldes de expressão. A peça envolve uma escala de alguns milhões de anos e mostra as emoções dos homens para com o seu Deus. O primeiro ato trata da origem animal do Deus, o aspecto e a emotividade do monstro mitológico e as razões que levaram a mulher inferior a transformá-lo num objeto de dimensões infinitas, apropriado à ira e ao amor do homem. Mostrava a vida do Deus pastando entre as feras do mato e os laços afetivos que mantinha com estas. É o Deus peludo, de cabelo ondulado e comprido como o da mulher e que pratica a grande traição. A traição de sangue, matando os seus amigos as feras, abandonando os seus companheiros de pasto, para o amor de uma mulher inferior, um ser de uma outra espécie.
No 2º ato a Mulher Inferior explica ao mundo porque ela seduziu o monstro mitológico e pacato de entre os animais e colocou-o como Deus entre os homens, uma profunda saudade marca a sua entonação e a sua ira contra o Homem Superior. Entre um coro de mugidos de vaca de manhã cedo os homens do mundo imploram em vão um Deus calado e desaparecido. . Perplexos, eles decidem e controlam os destinos do pensamento, marcam e especificam o fim do Deus e o modo de usar os seus resíduos no novo mundo.” – Flávio de Carvalho, A origem Animal do Deus e o Bailado do Deus Morto do mesmo autor, Difusão Européia do Livro/1973.