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Teatro: 3 sugestões de peças para este final de semana

Coluna Por Natália Beukers

Em meio às dificuldades pelas quais estamos passando nestes tempos pandêmicos, nada melhor do que viver a experiência teatral: em que o público tem a possibilidade de reconhecer, a partir das vivências de uma personagem, sua própria vida e vislumbrar novas possibilidades para ela.

Essa sensação pode ser vivida – e digo isso por experiência própria – ao assistir à peça Terra Medeia. Mas, detalhe importante: o espetáculo só acontece por mais este final de semana (até 13/06)!

A direção de Terra Medeia, texto da autora sueca Sara Stridsberg, é assinada pela diretora e atriz, também sueca, Bim de Verdier – que já assinou mais de cinco montagens aqui no Brasil. E, dentro desse universo multinacional, os atores de Terra Medeia se dividem entre Brasil, França e Suécia, para realizarem, ao vivo, naquele único instante, o espetáculo para o público. Realmente, imperdível!

Trata-se de releitura da tragédia grega, escrita há quase 2500 anos, por Eurípedes, em que uma mãe acaba por matar seus filhos, mas, desta vez, no mundo contemporâneo. Neste caso, a personagem Medeia, interpretada pela atriz Nicole Cordery, é uma imigrante que, abandonada pelo marido, também perde o direito de viver no país dele.

Em conversa sobre o texto com Bim, ela explicou: “O texto de Sara Stridsberg não conta sobre a personagem Medeia, mas sobre a condição de ser Medeia. O que faz com que ela chegue a ser perigosa? Uma pessoa que pede ajuda, que grita por socorro, e que fica várias vezes abandonada, não recebendo o que ela pede, pode entrar em uma espiral de ódio e de medo, e sacrificar o que lhe é mais valioso. Então esse texto conta sobre isso, sobre esse processo de uma pessoa sensível em uma situação extrema, onde ela não tem mais poder sobre a própria situação, onde ela não tem liberdade.”

E ainda completou: “O texto, por uma perspectiva, é muito fácil de dizer, parte do dia a dia. Mas, de outra perspectiva, tem símbolos, uma linguagem poética. Isso é típico em Sara Stridsberg. Ela é uma escritora que recentemente foi muito traduzida, para vinte e cinco línguas. A obra dela está sendo esparramada mundo a fora!”

Para mim, o texto toca em um ponto fundamental e que vai ao encontro do que estamos vivendo neste momento: a condição de ser humano.

E, ao comentar sobre as atuais circunstâncias com Bim, ela enfatizou: “Toda a obra dela reflete uma humanidade, a questão de ser humano, que é uma questão muito grande, mas muito frágil e sensível ao mesmo tempo. O que é ser um humano? A gente fica muito reduzido, a gente não vê a grandeza, não nos colocamos na situação — por conta do dia a dia, da correria — de como a gente tem que fazer de tudo para dar valor à essa vida que a gente tem. E de como a gente tem que cuidar do outro, da convivência com as outras pessoas, do encontro. É uma contradição: ter o direito, o privilégio de viver uma vida humana e, ao mesmo tempo, ser tão sensível e tão frágil. Essa Terra Medeia conta justamente sobre isso, sobre como a gente não cuida do mais valioso, do mais sensível.”

Sobre a experiência de realizar este projeto, Bim disse: “Eu não consigo compreender a Medeia. Para mim é interessante, sempre interessante, fazer um espetáculo onde eu não tenho as respostas. Onde eu realmente não tenho uma visão completa. A gente tem que pesquisar juntos: o que leva essa mulher a fazer isso? Porque ela não é uma louca. Ela vive em uma situação de loucura e faz coisas loucas. E uma das razões pelas quais eu gosto tanto de fazer teatro, é porque a gente pesquisa juntos, a gente fica com essas questões, juntos.”

Quando contei sobre minhas impressões a respeito do espetáculo, Bim reiterou que “o público tem compreendido o espetáculo de formas diversas”, o que a deixa muito alegre: “às vezes as pessoas citam frases do texto… muitas mulheres se identificando. Falando sobre a situação da mulher na sociedade.”

Ao longo desse agradável bate-papo, disse à Bim que, ao assistir à montagem, me senti acompanhada pela personagem, no sentido de me reconhecer em suas angústias. Mas, como comentei no começo da coluna, pude entender que há mais possibilidades para certas questões da vida! E ter esse entendimento foi um alívio.

Quanto a isso, a diretora falou: “A gente não pode montar uma tragédia onde não tenha esperança. Essa é uma opinião minha, não um fato! Mas se a gente monta uma tragédia, de alguma forma, tem que ter uma esperança inserida, porque as pessoas não aguentam mais viver sem esperança… porque estamos isolados, porque tem uma coisa que a gente não consegue controlar de nenhuma forma, essa pandemia e a situação da sociedade. (…) e uma esperança que as vezes algumas pessoas enxergam, é a força do amor. Porque a mesma força que tem o ódio e o medo, tem o amor. Onde há amor, tem uma luz.”

Bim pontuou todas essas questões em conversa que tivemos no dia 08 de junho. Outras partes da entrevista, em que falamos sobre sua trajetória, sobre a relação dos jovens com o teatro, podem ser conferidas no perfil do Instagram Infoteatro (@infoteatro_).

Outras duas apostas para os próximos dias — mas que ainda não tive a oportunidade de assistir — são os espetáculosO Despertar (monólogo de autoria dos italianos Franca Rame & Dario Fo, dirigido por Neyde Veneziano e interpretado pela atriz Carla Candiotto) e Como os Cigarros Fazem as Malas (projeto do Grupo Galpão — grupo importantíssimo de Belo Horizonte, Mnas Gerais — com direção da atriz e diretora Yara de Novaes e texto de Newton Moreno).

O Despertar, que estreia no dia 11 de junho, trata-se de monólogo cômico em que a operária italiana dos anos 1970, da versão original italiana, se transforma em vendedora de uma loja de R$ 1,99, na montagem da encenadora Neyde Veneziano. A estória da personagem, mulher assediada pelo patrão comerciante, maltratada pelo marido desempregado, e ainda obrigada a sustentar a casa, é severa crítica ao cotidiano feminino.

Por fim, Como os Cigarros Fazem as Malas, trata-se de experiência realizada através do aplicativo Telegram, a partir de mensagens escritas, áudios, fotos, vídeos e outras ferramentas do app! Isso mesmo: para acompanhar o espetáculo, o espectador precisa baixar o aplicativo Telegram em seu aparelho celular. E, pela sinopse disponível no próprio site do Grupo Galpão: “Este texto foi escrito em trânsito, durante uma viagem, num voo, conexões e suas escalas, de São Paulo a Paris.” – estou ansiosa para assistir!

Terra Medeia
Estreia 22 de maio, 17h.
Temporada 22 de maio a 13 de junho, sábados e domingos, às 17h.
Retirada de ingressos e transmissão pelo site Plataforma Teatro
Ingressos gratuitos.

O Despertar
Estreia 11 de junho, 20h.
Temporada 11 de junho a 20 de junho, sextas, sábados e domingos, às 20h.
Retirada de ingressos e transmissão pelo site Sympla.
Ingressos gratuitos.

Como os Cigarros Fazem as Malas
Estreia 05 de junho, 11h e 20h.
Temporada 05 de junho a 13 de junho, sábados e domingos, às 11h e 20h.
Retirada de ingressos pelo site Sympla e transmissão pelo aplicativo Telegram.
Ingressos gratuitos.

 

Este texto foi, originalmente, publicado no site da revista Vogue Brasil, dentro do segmento ‘Gente’. Para acessar a publicação original, clique aqui.

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Sobre
Natália Beukers

Natália Beukers

Atriz, criadora do Infoteatro e colaboradora de Cultura da Vogue Brasil, tendo escrito mais de 50 textos até então. Formada em Direito pela PUC-SP (2020), começou a estudar teatro aos 10 anos de idade, formando-se como atriz em 2017. Estudou, de 2017 a 2021, com os atores do Grupo TAPA, participando de três espetáculos do grupo: “Anatol”, “O Jardim das Cerejeiras” e “Um Chá das Cinco”. Foi assistente de produção em mais de 10 temporadas da companhia. A partir da criação do Infoteatro, em abril de 2020, entrevistou mais de 100 profissionais da área teatral.

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