
Solo com dramaturgia inédita de Kiko Marques e direção deEric Lenate é baseado em uma história real.
O relato de um desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo no programa Roda Viva, da TV Cultura é o disparo de A Mulher e um Corpo, solo da atriz Bete Correia, que estreia dia 3 de março, sexta-feira, às 20h30, no Teatro Giostri. O espetáculo traz à cena a figura de uma mulher ao lado de um corpo desconhecido em decomposição coberto por sacos de lixo em uma comunidade periférica de São Paulo.
Com texto de Kiko Marques e direção de Eric Lenate, A Mulher e um Corpo narra a história de uma professora que após começar a ensinar um traficante a tocar violino é assediada sexualmente. Diante da recusa da mulher, o traficante mata o irmão dela e avisa que o corpo não pode ser retirado do local. Caso isso ocorra um outro membro da família será colocado no lugar.
Em tom de suspense, o público vai descobrindo as nuances da história dessa mulher, que luta contra as tentativas de retirarem o cadáver que está ao seu lado. Ao mesmo tempo em que luta, narra passagens de sua vida, num fluxo que se alterna entre delírios e lembranças desconexas de sua história de mulher nascida e criada num lugar onde o Estado não chega. “É uma tragédia que destrincha a violência e o mecanismo contra o corpo da mulher e também a história de uma representante que sobrevive a uma tragédia que não é só dela”, pontua o diretor Eric Lenate.
Impotências do feminino
A Mulher e um Corpo nasceu da vontade da atriz Bete Correia em levar ao palco um espetáculo solo onde pudesse dar voz a uma mulher frente as impotências do feminino diante do poder. “Queria falar sobre machismo, violência e assédio, mas sem ser panfletária. A ideia é usar o palco como espaço de fala, de protesto”, conta ela.
A atriz então procurou Kiko Marques e pediu para ele um texto em que conseguisse dar vazão as suas ideias em um espetáculo solo. Após um tempo Kiko retornou contando sobre o fato visto na TV. O que há de real na história e o que dela foi construído, assemelha-se à Antígona, tragédia de Sófocles, onde a protagonista é impedida de enterrar seu irmão, considerado um traidor do Estado.
Ato político
Em A Mulher e um Corpo, assim como na tragédia grega, o Estado é representado por um homem que dita as regras do alto de sua vontade. Para o autor Kiko Marques, “o ato político dessa mulher é estar ao lado daquele corpo, contando aquela história, encenando aquele ato fúnebre, maldito, que é entregar o corpo do ser amado aos abutres.”
No espetáculo, o cenário é um país real, um Brasil assustadoramente desigual, onde a grande maioria das pessoas é confinada a um destino de trabalho, reprodução e consumo. “Estamos falando da mulher e seu direito a ser dona de si e de seu corpo. Uma mulher que, no ato de definir seus caminhos, ato puro e necessário de autonomia e individuação é julgada e punida como uma criminosa que ultrapassa o campo da individualidade e ameaça o poder do Estado”, ressalta Kiko Marques.
Sobre Bete Correia
Formada pelo Célia Helena Centro de Artes e Educação e por nomes como Antônio Araújo, Roberto Lage, Brian Penido (Grupo Tapa de Teatro) e Walter Lima Júnior. No teatro atuou em diversas peças, como Tudo no seu Tempo, de Alan Ayckbourn e direção de Eduardo Muniz; Rodriguianas, Tragédias para Rir baseado em A Vida como ela é, de Nelson Rodrigues e direção de Luiz Arthur Nunes; Dois Irmãos, baseado no romance de Milton Hatoum e Dom Juan, de Molière com direção de Roberto Lage. No cinema atuou no longa A Fronteira, direção de Roberto Carminati (Estados Unidos) e no média-metragem Laurita com direção de Roney Freitas e no curta-metragem Sintonia, direção de Jaime Queiroz.
Ficha Técnica:
Idealização e Atuação – Bete Correia.
Autor – Kiko Marques.
Direção – Eric Lenate.
Assistente de Direção – .
Cenografia e Iluminação – Eric Lenate.
Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta.
Produção – Shakespeare Produções.