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OUTONO INVERNO OU O QUE SONHAMOS ONTEM

Peça indicada aos Prêmios Shell e APCA e selecionada entre as melhores do ano pelo Guia da Folha, Outono Inverno ou O que sonhamos ontem, abre a temporada teatral de 2023 do Aliança Francesa.

Texto do sueco Lars Norén sobre opressão familiar ganhou dramaturgismo de Kiko Marques e direção de Denise Weinberg.

“Valendo-se de todos esses elementos e do bravo elenco, Denise Weinberg realizou espetáculo memorável que se inscreve entre os melhores deste 2022.” – José Cetra, jurado APCA

“Não tivesse o autor falecido de covid aos 76 anos em janeiro de 2021, valeria muito a pena que fosse convidado para vir conhecer esta versão de seu texto. Exorto a que abandonem qualquer outro compromisso assumido previamente e corram para o teatro!” – Luiz Gonzaga Fernandes

Escrita em 1982 pelo dramaturgo sueco Lars Norén (1944-2021), a obra põe em foco um jantar familiar entre um casal que não compartilha mais a mesma cama e suas filhas de meia idade que vivem cada uma a seu modo em suas próprias casas.

Espetáculo ‘Outono Inverno’ coloca submissão feminina e opressão na mesa de jantar – Dirceu Alves Jr. para Estadão 

As tensões familiares se tornam cada vez mais latentes neste encontro e culminam num acerto de contas entre pais e filhos. Uma família de classe média que lida com questões burguesas. A montagem de 2006, dirigida por Eduardo Tolentino de Araújo, trouxe no elenco Sérgio Britto, Laura Cardoso, Emília Rey, e a própria Denise Weinberg, que agora assume a direção nessa versão com Noemi Marinho, Riba Carlovich, Nicole Cordery e Dinah Feldman, e dramaturgismo de Kiko Marques, que traz para os tempos modernos o texto de Lars Norén.

“Essa peça promove uma viagem infernal pelas sombras do inconsciente de uma família, que atualmente é um sistema esfacelado, disfuncional e que segundo Lars Norén, provocadora de grandes neuroses e doenças afetivas, e que já não sabemos mais o que é ser normal hoje em dia”, explica Weinberg, que promove neste espetáculo uma espécie de “passagem do bastão”.

A obra tem como foco o recorte de um jantar na casa do casal Henrique e Margarida na companhia de suas filhas, Ana e Eva. Médico fracassado que nunca conseguiu assumir as responsabilidades de um pai de família, Henrique é sucessivamente humilhado por Margarida, uma mulher que se ressente de ter desistido de uma paixão por causa de crenças burguesas. As filhas também vivem os reflexos dessa relação disfuncional dos pais. Vivendo as crises da meia idade, Ana e Eva buscam algum equilíbrio no relacionamento, mas precisam lidar com seus próprios problemas, tentando manter a sanidade em meio a guerra familiar.

Denise usa sua experiência dos longos anos de ofício não apenas para dirigir a montagem, mas para promover um encontro entre artistas de diferentes escolas e gerações. Nicole Cordery e Dinah Feldman, por exemplo, fazem parte de um grupo de atores que surgiu logo após o de Weinberg, Marinho e Carlovich, mas a produção vai além. Ao longo do processo, jovens artistas participaram de uma espécie de estágio com profissionais de áreas de desenho de luz, figurino, cenografia e trilha sonora. “Acredito que assim instituímos um novo tipo de profissional no mercado, que não é apenas o que estuda e tenta aprender no dia a dia, mas o que convive com outros grandes nomes de suas áreas e pode trocar de igual para igual. Queremos fortalecer o mercado, principalmente neste momento em que ele está tão combalido”, explica Marcela Horta, produtora do espetáculo.

Com o subtítulo “O Que Sonhamos Ontem”, “Outono Inverno” recebe uma adaptação assinada por Kiko Marques, que visa aproximar do público brasileiro a narrativa sueca escrita na década de 1980.

“Foi através desse olhar; de uma compaixão infinita por Ana, Eva, Margarida e Henrique, personagens dilaceradas em si e em suas vidas, levando aquela casa como uma cruz osso; e pensando também nas infinitas mudanças desses 40 anos que separam o texto de Norén de dessa releitura, que me lancei ao trabalho da escrita”, conta.

Algumas imagens me interessavam profundamente em “Outono Inverno” quando Dinah, Nicole, Marcela e Denise me convidaram a ressignificar o texto para nossos tempos, espaços e olhares de agora. A primeira delas era a família e a casa onde tudo acontece; em seguida, a comida; e por fim, a palavra.

Não sabia explicar com precisão o por que desse interesse e recorte, e talvez não o saiba agora, mas estava claro pra mim que aí residia o poder, a identificação e a profunda comoção que esse belo poema cênico de Lars Norén me causava; e que minha tarefa seria de uma enorme responsabilidade humana e artística.

Sabia que aquela casa, a casa da infância de Ana e Eva, a casa de toda a vida comum do casal Henrique e Margarida, era também a casa arquetípica de todos nós, que no processo inverso ao de se ter morado ou morar nela, hoje é ela que mora em nós, como uma casa interna, parte de nossa anatomia, tomando emprestado a imagem de João Cabral de Melo Neto.

Nossos cercadinhos, como disse Denise num dos nossos ensaios: “tudo isso começou no primeiro cercadinho”.

E sabia também que o eterno retorno àquela casa se dava de uma forma ritual, através da comida, como se retornassem também à comida original, ao leite materno que se perpetua em infinitos e aprimorados mananciais de carnes, doces, frutas, café, álcool… Alimentos, memória do espírito desta família.

E também que é através das palavras que se estabelece a luta e o luto que ali vivem. Palavras que disparam, no sentido oposto ao da comida que ingerem, na esperança de dilacerar as carnes impalpáveis de sua história comum (memória). Sinfonia de gritos, de falas doces como a lâmina de um punhal, de gestos falas, gestos, verbos e de silêncios no meio de estrondosas fúrias…

E que isso tudo somos nós em nossa luta constante por sermos pessoas melhores e, consequentemente, podermos gerar mundos melhores.

Foi através desse olhar; de uma compaixão infinita por Ana, Eva, Margarida e Henrique, personagens dilaceradas em si e em suas vidas, levando aquela casa como uma cruz osso; e pensando também nas infinitas mudanças desses 40 anos que separam o texto de Norén de dessa releitura, que me lancei ao trabalho da escrita.

Agradeço ao Itaú Cultural por esse encontro;
A esse elenco de sonhos: Dinah, Nicole; Noemi e Riba;
À Marcela e a todos os observadores e observadoras, que estiveram conosco durante o processo. Fundamentais.
E a essa equipe extraordinária de criadores: Chris, velho e profundo parceiro; Wagner, Greg: magos.
E à minha grande parceira de arte e alma Denise, por mais essa viagem.


Denise Weinberg

Em 2006, fiz o papel da Ana nesta peça “Outono Inverno”, quando tive o privilégio de conhecer esse grande autor sueco, Lars Norén, herdeiro de Strindberg e Bergman, maior nome do teatro europeu contemporâneo, que infelizmente perdemos para a Covid aos 76 anos, em janeiro de 2021.

Agora, volto no “papel” de diretora, com um elenco amigo há mais de 20 anos, com meu grande parceiro no teatro Kiko Marques, que repaginou a dramaturgia de 1982 para o século XXI, e minha equipe fiel e amorosa que me acompanha sempre nas minhas direções e atuações: Gregory Slivar, na direção musical, pessoa importantíssima na construção de um espetáculo, Chris Aizner, nos cenários e figurinos, que também me alimenta com suas referências sofisticadas há anos, e Wagner Pinto, que me ilumina há décadas, parceiro inseparável que conheci em 1982, iluminando a minha Sonia, do Tio Vania, de Tchekhov, ainda no Rio de Janeiro. Para fechar a orquestra, Marcela Horta que rege brilhantemente a equipe toda, como produtora, não deixando de cuidar de nenhum detalhe. Portanto, estou muito bem acompanhada.

Essa peça promove uma viagem infernal pelas sombras do inconsciente de uma família, que atualmente é um sistema esfacelado, disfuncional e que segundo Lars Norén, provocadora de grandes neuroses e doenças afetivas, e que já não sabemos mais o que é ser normal hoje em dia.

Tentando viajar mais para o lado sensorial, que sempre me fascinou e menos pelo racional, “Outono Inverno” ou “O Que Sonhamos Ontem” é uma experiência que nos levou e nos leva diariamente a pensar nas nossas vidas, nossas experiências como seres humanos gregários, tendo como base esse texto magistral de Lars Norén e deslocado brilhantemente por Kiko Marques para nossa sociedade contemporânea do século XXI, esfacelada pelos ódios, pela ganância, pela falta e dificuldade de amar, pela miséria, pela descoberta infeliz de não termos dado certo, não termos realizado nossos sonhos e a triste constatação da nossa solidão e frustração, com pitadas de humor, diante de um mundo que está explodindo em virtude de sua decomposição promovida por nós mesmos, que estamos involuindo cada vez mais, de uma forma chocante.

Como dizia Nelson Rodrigues:

“Tudo é uma questão de falta de amor” e eu complemento: Todo nosso problema é não sabermos amar…, mas, sabemos destruir.

Pena…

“Um espetáculo para toda família!”

SOBRE LARS NOREN – dramaturgia
Em linha sucessória, pode-se dizer que após August Strindberg (1849-1912) e Ingmar Bergman (1918-2007) é o dramaturgo Lars Norén aquele que detém a obra mais reconhecida dentro do panorama teatral sueco. Norén, falecido recentemente em janeiro de 2021, escreveu peças, livros e poemas, sempre em busca de ampliar o que se pode fazer em termos de dramaturgia. Acreditamos que uma das relevâncias do projeto se dê no resgate desse importante autor no Brasil, recentemente falecido em janeiro de 2021 de Covid-19. Juntamente com “Outono/ Inverno”, as obras mais relevantes do autor são “Demônios”, “Sangue”, “A Noite é Mãe do Dia”, “Escondido”, “Em Memória de Anna Politkovskaya”, “Romenos”, “A Clínica” e “Frio”, entre outras.

FICHA TÉCNICA:

Texto: Lars Norén
Direção: Denise Weinberg
Dramaturgismo: Kiko Marques
Elenco: Dinah Feldman Nicole Cordery Noemi Marinho Riba Carlovich
Música e concepção sonora: Gregory Slivar
Desenho de Luz: Wagner Pinto
Assistente de iluminação: Gabriel Greghi
Cenografia e figurino: Chris Aizner
Designer gráfico: Murilo Thaveira
Mídias sociais: Pedro Amaral e Isabel Branquinha
Operadora de luz: Gabriela Cezario
Operador de som: Brenda Umbelino
Cenotecnia: Casa Malagueta
Fotos: Leekyung Kim e João Caldas
Produção executiva: Madu Arakaki
Coordenação de projeto: DinahFeldman Nicole Cordery
Direção de produção: Marcela Horta

 

Dias 17, 18 e 19 de fevereiro não haverá espetáculo por causa do carnaval.

 

Texto disponibilizado pela produção do espetáculo.

Detalhes da peça

Status

Encerrada

Temporada

De 20/01/2023 até 05/03/2023

Dias

sex 20h, sáb 20h e dom 18h

Duração

80 minutos

Valor

sex R$30 / sáb e dom R$50

Região

Centro / São Paulo

Teatro / Espaço

TEATRO ALIANÇA FRANCESA
Rua General Jardim, 182, Vila Buarque, São Paulo/SP - 01223011

Estacionamento

Em frente ao teatro

Cafeteria

Sim

Telefone

(11) 3572-2379

14

Classificação indicativa

Não apropriado para menores de 14 anos

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